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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Cair na Folia - com Orquestra Imperial

Conselho - com Orquestra Imperial

ENQUANTO A GENTE NAMORA - Orquestra Imperial



(Thalma de freitas e João Donato)

Pra não esquecer... Strange Fruit



"Strange Fruit" foi composta como um poema, escrito por Abel Meeropol (um professor judeu de colégio do Bronx), sobre o linchamento de dois homens negros. Ele a publicou sob o pseudônimo de Lewis Allan.


Strange Fruit
Southern trees bear a strange fruit
Blood on the leaves and blood at the root
Black bodies swinging in the southern breeze
Strange fruit hanging from the poplar trees

Pastoral scene of the gallant south
The bulging eyes and the twisted mouth
Scent of magnolias, sweet and fresh
Then the sudden smell of burning flesh

Here is fruit for the crows to pluck
For the rain to gather, for the wind to suck
For the sun to rot, for the trees to drop
Here is a strange and bitter crop


Fruta Estranha
Árvores do sul produzem uma fruta estranha,
Sangue nas folhas e sangue nas raízes,
Corpos negros balançando na brisa do sul,
Fruta estranha penduradas nos álamos.

Pastoril cena do valente sul,
Os olhos inchados e a boca torcida,
Perfume de magnólias, doce e fresca,
Depois o repentino cheiro de carne queimada.

Aqui está a fruta para os corvos arrancarem,
Para a chuva recolher, para o vento sugar,
Para o sol apodrecer, para as árvores deixarem cair,
Aqui está a estranha e amarga colheita.


MEMÓRIA


Memória 
Carlos Drummond  de Andrade

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

SANTO SUJO

Do livro Santo Sujo - A vida de Jayme Ovalle, de Humberto Werneck

Entrevista com Jayme Ovalle para o tablóide Flan. O entrevistador é Vinicius de Moraes.

P - Por que Deus fez as mulheres feias?
R - as normalmente feias Deus fez para casar com homens bonitos. Quanto às irremediavelmente feias, foram feitas por Deus para povoar as igrejas de madrugada, para usarem grandes rosários e serem beatas.

P - Qual a posição política do Demônio?
R - É da natureza do Demônio mudar de política conforme os acontecimentos.

P - Quais os arquitetos, músicos, poetas, pintores e romancistas brasileiros preferidos por Deus?
R - Bom, arquiteto é o Niemeyer mesmo. Poeta, é o Bandeira. Pintor, é Portinari. Mas Deus anda meio zangado com Portinari, desde que ele fez aquela Ceia, a agora anda indeciso entre ele e Di Cavalcanti. Agora,uma coisa eu sei - Deus não lê romance moderno brasileiro.

P- Se o Papa ficasse louco, ainda assim os católicos lhe deveriam obediência?
R- Claro. Se o Papa ficasse louco, isso seria a plenitude de sua infalibilidade.

P- A Poesia, Ovalle, que é a Poesia?
R- É a coisa mais importante do mundo. Todo mundo nasce com ela, porque ela é a própria vida. Todo mundo é criado com o dom da poesia, e só deixa de ser poeta porque perde a inocência. Quanto mais o homem cresce carregando consigo a sua inocência, maior poeta ele é. No fundo, esse pessoal que se torna banqueiro, ou Senador, ou Presidente da República, só faz isso porque deixou de ser poeta, ou porque é poeta frustrado.

P- Onde vive a Música?
R - Fora de nós. Nós somos os instrumentos. Quanto melhor o instrumento melhor a música. Se formos um Stradivarius, a música toca em nós que é uma beleza! Mas tem muito instrumento ordinário por aí.

P - O que é a loucura, Ovalle?
R - A loucura é o vácuo entre a criação e a obra criada.

P- O que é a noite, Ovalle?
R- É a única coisa que a gente tem, Olha lá: lá está ela. É minha e sua. O dia não é de ninguém.

P - Você, como católico, aceita o ato sexual independentemente do sentimento da procriação?
R- Eu sou contra qualquer burocracia.

P - Que acha de Freud e da psicanálise?
R- Freud foi um louco genial, que descobriu as causas da própria loucura e acabou se curando. Seu erro foi ter generalizado sua própria loucura através da psicanálise, porque a loucura é uma coisa una, pessoal e intransferível.

P - Qual era o comportamento do anjo da guarda de Karl Marx?
R -  Bom, era um anjo muito boêmio, que saía muito, dormia nos albergues, conhecia bem a vida, as dificuldades e os problemas do seu tempo. Marx era um conservador, agora, o ANJO DELE ERA MUITO REVOLUCIONÁRIO. Como era revolucionário! sabe disso? Marx ficou revolucionário por causa do seu anjo da guarda.

P - O que é o câncer?
R - É a tristeza das células. A tristeza é que dá câncer.

P - O que é maior: a criatura ou a criação?
R - A criatura é maior que a criação. Uma criação só é boa porque o seu criador e grande. A obra de Camões é grande porque é de Camões.

P - O QUE É UM CHATO?
r - UM CHATO É UM SUJEITO QUE PARA FALAR COM VOCÊ, PEGA VOCÊ PALETÓ. È UM SUJEITO QUE LHA ABRAÇA MUITO QUANDO VOCÊ ESTÁ DE ROUPA BRANCA PASSADINHA, VINDA DO TINTUREIRO... O CHATO É TAMBÉM UM SUJEITO QUE ENTRA PELOS FUNDOS E TOMA O ELEVADOR DE SERVIÇO PARA DAR UM AR DE GRANDE INTIMIDADE. AGFORA, A GENTE NÃO PODE PASSAR SEM O CHATO. EXISTE A NOSTALGIA  DO CHATO. O MUNDO SEM CHATOS SERIA INSUPORTÁVEL. UMA DAS PROVAS DE DECADÊNCIA DO NOSSO MUNDO É QUE OS CHATOS ESTÃO FICANDO MUITO DIFÍCEIS. EU ACHO QUE O CHATO É O VERDADEIRO PSIQUIATRA. A GENTE FAZ VERDADEIRAS CURAS COM UM CHATO. DEPOIS DE SE CONVERSAR COM ELE, PUXA! NÃO EXISTE MAIS PROBLEMA NENHUM.

P - Que é a morte, Ovalle?
R - É a única coisa completamente nossa. A única coisa que não é social na criatura. É a única coisa individual, própria, que a gente alimenta desde que nasce. A morte é nossa filhinha querida. Todo o resto não nos pertence. Nosso nascimento, por exemplo, é de nossos pais.

(páginas 322 a 327)


SANTO SUJO - A vida de Jayme Ovalle
de Humberto Werneck
Editora COSACNAIFY

domingo, 30 de dezembro de 2012

Democracia participativa: referendo em defesa do Cocó


Editorial do jornal O POVO de 27 de dezembro de 2012
Um ato de marcante simbologia e cidadania foi realizado, ontem, pela prefeita Luizianne Lins, ao apresentar à Câmara Municipal o projeto de iniciativa popular de veto à construção de qualquer obra – exceto as de utilidade pública ou interesse social – na área do Parque do Cocó. A iniciativa é prevista na Lei Orgânica do Município de Fortaleza (LOM), uma das mais avançadas em termos de democracia participativa.
O projeto legislativo de iniciativa popular foi encaminhado de acordo com a lei que exige a assinatura de 5% dos moradores da área circundante para sua apresentação ao Legislativo Municipal. Foi justamente o que aconteceu, graças à mobilização de 750 cidadãos eleitores residentes no bairro pelo Movimento Veto Popular em Defesa do Cocó. Agora se espera que, atendendo à manifestação da vontade popular, o próximo presidente da Câmara convoque um referendo para a aprovação ou rejeição da proposta.
Desde já, os fortalezenses são privilegiados por duas coisas importantes: primeiro, por terem um patrimônio natural de suprema importância para a sua qualidade de vida: o Parque do Cocó; em segundo lugar, por ser uma das poucas cidades do País e da América Latina a dispor de um instrumento de cidadania tão importante como a LOM para defender os interesses da Cidade, através da participação direta de seus cidadãos.
Em termos de patrimônio natural, há uma crescente consciência cidadã de que é preciso conservar o que restou da devastação dos últimos 40 anos. Na fúria da urbanização sem critérios todo o legado da natureza foi depredado: riachos, córregos e lagoas foram aterrados, indiscriminadamente, e bosques foram derrubados, sem planejamento, eliminando uma rica flora e uma fauna não desprezíveis. Restou o Parque do Cocó, ainda assim, constantemente ameaçado.
Graças aos mecanismos de democracia participativa, o próprio povo adquiriu o direito de intervir diretamente na defesa da Cidade e de sua qualidade de vida. Resta esperar que a futura Câmara esteja sintonizada com a vontade popular e torne efetivos esses instrumentos legais que ainda não ganharam efetividade pela resistência surda dos que não admitem o avanço da democracia em nível municipal.

Referendo irá decidir sobre construções no parque

Por Geimison Maia

Pela primeira vez na história de Fortaleza, a população será consultada em referendo para aprovação ou não de uma lei na Capital. Ontem, a Prefeitura encaminhou um projeto de veto popular à Câmara Municipal.
Foto: Sara Maia
De autoria de moradores do bairro Cocó, o documento proíbe a construção de obras públicas - salvo quando de utilidade pública ou interesse social - e privadas na área do Parque do Cocó que cruza os limites do bairro. Para que a proteção valesse para todo o parque, seria necessário recolher assinaturas nos bairros que abrangem sua extensão dele.

Segundo o presidente da Câmara, Acrísio Sena (PT), a casa legislativa terá 30 dias para analisar o projeto. Depois disso, haverá o prazo de até um ano para realizar o referendo. “Geralmente, plebiscitos e referendos acompanham os processos eleitorais, até pelos custos (que geram)”, explica.

“O projeto nasceu da nossa vontade de proteger algumas áreas nas imediações do Cocó que estão suscetíveis à especulação imobiliária”, afirma Volia Barreira, moradora do Cocó e uma das organizadoras da iniciativa. Para que fosse encaminhado à Câmara, o grupo teve de recolher a assinatura de, no mínimo, 5% dos moradores do bairro, o que totalizou 750 pessoas. “Esse é um momento histórico para a cidade e para essa comunidade, que se organizou. (Espero) que isso sirva de exemplo para outras comunidades que queiram preservar o patrimônio ambiental”, enfatiza a prefeita Luizianne Lins (PT).

Para definir a área a ser protegida, o Movimento Veto Popular em Defesa do Cocó utilizou como base as delimitações do parque (poligonal) estabelecidas em um estudo feito pelo Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam) em 2008.

De acordo com o presidente do Conpam, Paulo Henrique Lustosa, “essa poligonal é um estudo que não é conclusivo”. O Governo do Estado também analisa propostas feitas pelo Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace) e pela Secretaria da Infraestrutura (Seinfra). Atualmente, são levadas em conta as poligonais desenhadas em 1989 e 1993, nos decretos de criação do parque.

Brecha na lei?

O projeto possibilita a construção de obras públicas, desde que tenham “utilidade pública ou interesse social”. Segundo Antônio Pinheiro Cavalcante, morador do Cocó, caberá à Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam) definir se as futuras intervenções na área protegida se enquadram nesses aspectos.

O titular da Semam, Adalberto Alencar, explica que essa ressalva está prevista na legislação ambiental federal e uma lei municipal não poderia excluí-la. O economista e ambientalista João Saraiva, integrante do Movimento SOS Cocó, pondera que “o dispositivo abre possibilidades para que, em nome do social, faça aterros e desmatamentos”. Porém, ressalta que a maior parte da área do parque é composta de Áreas de Proteção Permanente (APPs) e, por isso, construções só devem ser realizadas se não houver alternativas.

O Parque do Cocó ainda não é reconhecido como Unidade de Conservação, pois os decretos de criação já expiraram e as desapropriações de terrenos privados não foram realizadas. O Governo do Estado debate a regularização do parque e espera concluir o processo até o final de 2014. “O que garantimos, como Estado, é que, na área original, não autorizamos edificação. Nem vamos autorizar”, enfatiza Paulo Henrique Lustosa.

ENTENDA A NOTÍCIA
Plebiscito e referendo são consultas previstas na Constituição Federal. A principal distinção entre eles é a de que o plebiscito é convocado previamente à criação do ato legislativo ou administrativo. Já o referendo é convocado posteriormente, cabendo ao povo ratificar ou rejeitar a proposta.