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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Negra? Médica? Doutora?

Via Bruno Perdigão

Edu Lobo - 29 de agosto de 1943

Por Marcus Vinicius

Para Eva Caldas, fã número um de Edu Lobo.



TEMPO PRESENTE
(Edu Lobo e Joyce)

Tanto tempo te amei
Tanta chance te dei pra me usar
Tanto te desculpei
Tanto te acostumei a brincar
Quantos anos perdi
Envelheci de amor
E você não mudou
Nunca parou pra pensar
Sempre eu tinha razão
Sempre eu era quem não pode errar
E quem sempre está certo
É o primeiro por certo a cansar
Mas agora as águas vão rolar
E você vai chamar
Vai pedir, procurar
Quando não me encontrar por aqui.

Eu não peço desculpas..

Por Marcus Vinicius

Pois "num é" que Jorge Mautner e Caetano Veloso já não pediam desculpas. O pessoal fez escola, pois por aqui, o rapaz também não pede desculpas. No entanto o cronista pediu:



Eu não peço desculpas (Caetano Veloso e Jorge Mautner)

Eu não peço desculpa
E nem peço perdão
Não, não é minha culpa
Essa minha obsessão
Já não agüento mais
Ver o meu coração
Como um vermelho balão
Rolando e sangrando,
Chutado pelo chão

Psicótico,
Neurótico,
Todo errado...
Só porque eu quero alguém
Que fique vinte e quatro horas do meu lado
No meu coração, eternamente colado...
No meu coração, eternamente colado...

Hipócrates, perdoai, eles não sabem o que fazem

Por Mário Mamede

Não levante a voz, melhore seus argumentos! Não consigo tirar da cabeça esta frase do arcebispo sul-africano Desmond Tutu, desde a lamentável cena protagonizada por algumas pessoas formadas em Medicina sob a equivocada liderança de um sindicalismo anacrônico, caduco e nocivamente corporativo, desrespeitando e agredindo os médicos estrangeiros, sobretudo os cubanos, na Escola de Saúde Pública, na segunda-feira passada.

Neste momento de inquietação sobre o futuro do País e na busca de uma sociedade com justiça social, precisamos buscar novos paradigmas para a formação profissional e para o exercício da prática médica. Não é fácil ser protagonista deste processo, pois exigente do ponto de vista intelectual, tanto em sua formulação teórica como no exercício da práxis política.

Nesta busca, é preciso compromisso e sensibilidade para que o Estado Brasileiro, a sociedade, médicos e todos os profissionais de saúde possam garantir atenção básica à saúde nos pequenos, pobres e distantes municípios, com baixo IDH e indicadores de morbi-mortalidade vergonhosos.

O discurso político do sindicalismo médico cearense vem se estruturando em cima de verdades distorcidas, falseando a realidade. Não encontra lugar diante dos desafios colocados à categoria médica. Pela pobreza de argumentos, apelam para o grito, levantam a voz e partem para atitudes agressivas, tendo nos cubanos o alvo principal. Como é possível uma cultura de paz com comportamentos violentos?

Certamente, alguns estabanados, ao adjetivarem os colegas de “incompetentes” e “escravos”, não se apercebem que são escravos de uma vaidade desmedida, de sede de prestígio e um indisfarçado desejo de enriquecimento. Nos movimentos reivindicatórios por melhores salários, condições de trabalho, em defesa do SUS e saúde para todos, garantida a conquista salarial, as reivindicações “acessórias’’ são rapidamente esquecidas, e as pessoas à margem de qualquer atenção à saúde permanecem aonde estavam e estão abandonadas e sofridas.

Gostaria que os “valorosos manifestantes”, com a devida humildade, pedissem desculpas não só aos médicos e médicas cubanos, mas à sociedade pelo inconsequente e desastrado ato, incapaz de contribuir para o debate sobre os rumos da política de saúde em nosso País.

Neste momento cabe lembrar o pensamento de José Martí, herói Nacional de Cuba: “A verdadeira Medicina devemos ter em nossos corações”.


O INACREDITÁVEL MÉDICO QUE LIDEROU A VAIA CONTRA CUBANOS

Por Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania

O presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (SimeC) é o médico e ex-vereador José Maria Pontes. Ele liderou o protesto contra médicos cubanos ocorrido na terça-feira (27) em Fortaleza. Cobrado pela violência do ato, vem dizendo que “Ninguém vaiou médico cubano, mas quem estava com eles”. E que a vaia só ocorreu porque “Não dava para não misturar se estava todo mundo junto”.

O sindicalista ainda garantiu à imprensa que “A vaia, na verdade, foi para aquelas pessoas que tiveram a ideia absurda de trazer esses médicos para cá, inclusive com trabalho escravo sem nenhum compromisso a não ser com o compromisso ideológico do Partido dos Trabalhadores”.

A declaração de Pontes se deu no âmbito de críticas aos médicos, militantes políticos e sindicalistas cearenses que vaiaram os médicos cubanos, críticas que foram feitas por entidades médicas e sindicais do próprio Ceará, pela imprensa e pelas redes sociais.

Diante de fato como esse, o Blog decidiu entrevistar o presidente do SimeC. Este blogueiro encontrou Pontes em seu celular, em Brasília, preparando-se para voltar ao Ceará. Confira, abaixo, a conversa (gravada) com a pessoa que liderou a manifestação que xingou médicos cubanos negros de “escravos” e “incompetentes”.

Foto de Jarbas Oliveira
*

Blog da Cidadania – Senhor José Maria Pontes, o senhor é presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, certo?

José Maria Pontes – É.

Blog da Cidadania – Sr. José Maria Pontes, sobre esse caso do ato do seu sindicato contra os médicos cubanos, o senhor deu uma declaração de que as vaias e tudo mais que foi feito ali não teria sido contra eles.

José Maria Pontes – Não, na realidade, pra que as pessoas entendam, nunca ninguém teve intenção de atingir os médicos, porque naquela manifestação os médicos cubanos que chegaram ao Ceará foram recepcionados pelo Ministério da Saúde. O Odorico, que é representante do Ministério, é cearense.

O ato foi feito contra essa postura [do Ministério da Saúde] de trazer os médicos cubanos sem o Revalida. A nossa manifestação tinha uns 70, 80 médicos. Inclusive barraram a nossa entrada na Escola de Saúde Pública e nós ficamos do lado de fora com carro de som, fazendo manifestação e quando eles [os médicos cubanos] saíram, realmente levaram uma bruta vaia.

Quer dizer, não os médicos, né… Foi direcionado ao Odorico, porque ele saiu cercado por médicos [cubanos], como se estivesse protegido. E tudo foi direcionado a ele. Inclusive, né, a…

Blog da Cidadania – Quando fala em Odorico, o senhor se refere a quem?

José Maria Pontes – Odorico Monteiro é o representante do Ministério da Saúde. É cearense e é uma das pessoas responsáveis por essa situação…

Blog da Cidadania – Senhor José, desculpe-me por interrompê-lo, mas há uma foto que circulou muito na internet e na imprensa em que um desses médicos cubanos está sendo vaiado por jovens médicas do seu sindicato. Elas estão gritando com as mãos na boca perto do rosto dele.

Havia, também, gritos de que os médicos seriam escravos. Foram ouvidos reiteradamente durante o protesto. Inclusive…

José Maria Pontes – Vamos, vamos, vamos…

Blog da Cidadania – Um minutinho, senhor José, deixe-me só terminar essa pergunta, porque as pessoas estão querendo entender o que de fato aconteceu.

Então veja, os manifestantes gritaram que os médicos cubanos seriam “escravos”. As vaias foram gravadas em vídeo e o que se vê nesse vídeo é que foram dirigidas diretamente aos médicos.

O que o senhor pode me dizer sobre essa contradição? O senhor afirma que as vaias não foram dirigidas aos médicos cubanos, mas o vídeo mostra outra coisa.

E ainda há um outro componente um pouco doloroso nisso tudo, senhor José Maria, porque havia muitos médicos cubanos negros, ali, e chamá-los de “escravos” é uma associação que muitas pessoas viram como racismo…

José Maria Pontes – Então deixa eu contar.

Blog da Cidadania – Pode falar, por favor.

José Maria Pontes – Quando nós estivemos lá, fazendo manifestação, eles [os médicos cubanos e o representante do Ministério da Saúde] fecharam a porta e foram fazer a manifestação deles lá dentro…

Blog da Cidadania – Perdão, mas não estavam fazendo “manifestação lá dentro”, estavam recebendo treinamento…

José Maria Pontes – Nós ficamos lá fora fazendo manifestação contra eles. Uma das coisas que foi mais debatida, lá, foi a história do trabalho escravo, né, no sentido de eles não terem direito a férias, 13º salário, a hora-extra e não ter direito a casar nem a namorar no Brasil

Blog da Cidadania – Epa! Proibição de se relacionar com brasileiros?

José Maria Pontes – É, porque…

Blog da Cidadania – Perdão de novo: de onde o senhor tirou essa informação?

José Maria Pontes – Essa informação todo mundo sabe, circula, porque é o seguinte, só pra você entender: se o médico tiver um filho com brasileiro ele adquire, naturalmente, a nacionalidade [brasileira] e o que se comenta – que parece que é verdade – é que eles querem que os cubanos voltem pra lá, porque se eles [os cubanos] pedirem asilo político no Brasil eles [o governo] não vão dar…

Blog da Cidadania – Ok, senhor José Maria, mas espere aí: como é que se vai impedir alguém de ter relacionamentos amorosos, por aqui? Suponhamos que um médico vê uma brasileira bonita na rua, começa a namorá-la, ela engravida… Enfim, como é que o governo brasileiro ou o cubano vão impedir que isso aconteça?

José Maria Pontes – Pois é, é isso que estou falando…

Blog da Cidadania – Então não pode existir essa proibição…

José Maria Pontes – Eles não querem que o médico cubano tenha filho com a mulher brasileira porque aí adquire nacionalidade e os médicos vão acabar ficando aqui…

Blog da Cidadania – Mas, repito, de onde o senhor obteve essa informação, senhor José Maria?

José Maria Pontes – Ah, essa informação circula há muito tempo, né…

Blog da Cidadania – Mas, aí, não significa que seja verdadeira…

José Maria Pontes – Eeehh… Inclusive na Venezuela, tá! Isso aí [a suposição] aconteceu [sic] porque os médicos venezuelanos, com essa história de não poder sair a partir das 18 horas – e se tiver que sair tem que prestar contas pra uma pessoa de Cuba –, faz a gente pensar assim…

Mas eu vou lhe responder a outra pergunta, né. O médico, o que ficou colocado foi essa questão do trabalho escravo. Até, ontem, a Fenam [Federação Nacional dos Médicos] entrou com uma representação, né, no Ministério Público do Trabalho sobre a questão trabalhista.

Eles [os médicos cubanos] vão ser utilizados para trabalho escravo. E o que aconteceu, então, não foi no sentido pejorativo, de chamá-los de negros. O que ficou colocado é que a gente estava dizendo para eles que eles iam exercer trabalho escravo…

Blog da Cidadania – Mas senhor José Maria… Primeiro que chamá-los de negros, tudo bem. Afinal, eles são negros mesmo e ser negro não é “pejorativo”.

José Maria Pontes – O que foi chamado [sic] é que eles querem associar a um sentido pejorativo, mas foi no sentido de ter o trabalho dele não do jeito que vem, porque do jeito que eles estão postulando… Porque, veja bem, os médicos que vêm da Argentina vão receber, diretamente, dez mil reais, que não é salário, é bolsa. Então eles [os médicos cubanos] não têm nenhum direito trabalhista.

Blog da Cidadania – Desculpe interrompê-lo, mas eu não consigo entender. Se eu chamo alguém de escravo, estou xingando. Porque se chamassem o Odorico [representante do MS] de feitor de escravos, até se poderia entender que o insulto foi para ele, mas quando chamam os médicos cubanos de escravos, isso é um insulto. Além disso, o escravo não tem culpa de ser escravo. Não pode ser vaiado por sua escravidão…

José Maria Pontes – Não, não, não foi nesse sentido. Foi no sentido de chamar a atenção…

Blog da Cidadania – Deles?!

José Maria Pontes – Não, não foi nesse sentido…

Blog da Cidadania – Vou reformular a pergunta: o senhor não se ofenderia se chegasse em um determinado local e uma pequena multidão o chamasse de escravo?

José Maria Pontes – Eu quero te garantir que o que foi colocado foi não aceitar que essas pessoas sejam usadas em trabalho escravo.

A nossa orientação, do sindicato, foi nesse sentido, que os manifestantes chamassem a atenção para a questão do trabalho escravo.

Foi, então, uma palavra de ordem, não no sentido pejorativo. Foi pra chamar a atenção deles de que iam exercer o trabalho escravo.

Blog da Cidadania – Isso o senhor já me explicou. Mas fico com uma dúvida quando o senhor fala em trabalho escravo. Pelo seguinte: o acordo feito entre o governo brasileiro e o governo cubano é semelhante aos acordos que a Organização Pan-americana de Saúde – a entidade de saúde mais antiga do mundo – fez com 58 países.

Não fica uma coisa meio estranha que 58 nações e mais o governo brasileiro estejam promovendo o trabalho escravo? Além do que, trabalho escravo, pelo que se entende, depende de condições degradantes de alojamento, alimentação, pagamento e, até agora, não existe nenhuma evidência de que isso esteja acontecendo.

Minha questão, portanto, é: 58 nações, mais o governo da República Federativa do Brasil, mais a organização de saúde internacional mais antiga do mundo (fundada em 1902) iriam promover o trabalho escravo no Brasil e no mundo, senhor José Maria?

José Maria Pontes – Estranho, né? Mas é verdade.

Blog da Cidadania – Estranho, não: fantástico.

José Maria Pontes – Quando você diz que a pessoa vai trabalhar, ela tem direito a salário. Eles [os médicos cubanos] vão receber uma bolsa. Não vão ter 13º salário, não vão ter direito trabalhista nenhum, porque é bolsa, né…

Quando você limita para que ele [o médico cubano] não possa sair de determinada área… Foi assim que aconteceu com os médicos cubanos na Bolívia e na Venezuela. Há depoimentos. E eles também não podem trazer a família deles.

Eu vi a entrevista de uma médica da Espanha, ela pode trazer a família dela. Eles [os médicos cubanos] não podem.

Quer dizer, quem está dando as ordens não é o governo brasileiro, é o governo cubano.

E essa coisa da OPAS foi só uma coisa… Uma bijuteria, foi só pra enfeitar, para dizer que foi uma coisa oficial, tal…

Blog da Cidadania – Ora, mas não é “para dizer que foi uma coisa oficial”. O acordo foi feito entre o governo brasileiro, o cubano e a OPAS. Não é uma “bijuteria”, é um acordo formal. Inclusive, o portal UOL publicou esse acordo, um tipo de acordo que é feito com a entidade por dezenas e dezenas de nações do mundo inteiro e o regime legal pelo qual esses médicos trabalharão no Brasil, até o momento, recebeu todo o aval da Justiça.

Então eu lhe pergunto: se a Justiça e o Ministério Público não encontrarem qualquer irregularidade nesse acordo, como é que fica uma manifestação e um discurso que GARANTEM a todos que está sendo implantando o trabalho escravo na medicina brasileira?

Ficaríamos assim: o governo brasileiro, a Justiça brasileira, o Ministério Público brasileiro, a OPAS e mais 58 nações estariam envolvidos com exploração de trabalho escravo, senhor José Maria? Isso não lhe parece uma sandice?

José Maria Pontes – É porque, até agora, ninguém teve acesso ao acordo do Brasil com a OPAS e o governo cubano. E estamos pedindo ao Ministério Público do Trabalho para que analise esse contrato, né, para ver se não existe trabalho escravo…

Blog da Cidadania – Sim, mas querer saber...

José Maria Pontes – Deixa eu falar, senão você fala, fala e não vai entender…

Blog da Cidadania – Ok, senhor José Maria. Pode falar, então.

José Maria Pontes – O que estou querendo dizer é que nós não temos nada contra os médicos. Foi uma manifestação contrária ao representante do ministério da Saúde. Eles [o governo Dilma] utilizou aquilo ali politicamente, para tirar proveito porque eles são poderosos, eles têm dinheiro, eles têm o poder da máquina estatal, mas não somos contra a vinda de médicos cubanos.

Não saiu em imprensa nenhuma, mas nós colocamos, várias vezes, que os médicos cubanos são bem vindos ao Brasil, mas queremos que eles tenham todas os direitos trabalhistas e tenham liberdade de ir vir. Mas ao governo não interessa, né, divulgar essas coisas.

Blog da Cidadania – Ok, senhor José Maria, mas a forma dessa manifestação não me parece correta. Eu lhe pergunto uma coisa: se o senhor fosse um daqueles estrangeiros e, chegando ao Brasil, encontrasse uma turba gritando, chamando-o de escravo, o senhor se sentiria bem vindo?

José Maria Pontes – Veja bem, quando se colocou essa questão não foi com a conotação que querem dar. Dissemos escravos foi no sentido inclusive de defender os interesses deles…

Blog da Cidadania – Espere aí: então a manifestação que foi feita com vaias e chamando-os de escravos foi para defendê-los?! De quem, deles mesmos? Porque, até onde se sabe, eles estão de acordo com tudo.

José Maria Pontes – Não, não foi a questão de defendê-los, foi para defender as condições de trabalho deles…

Blog da Cidadania – Mas o senhor não acha que a opinião deles também conta? Essas pessoas estão fora do país delas e, se estivessem sendo submetidas a trabalho escravo, poderiam muito bem, estando em território estrangeiro, denunciar e pedir asilo político dizendo ao governo brasileiro “Olha, estou sendo escravizado, me dê asilo”…

Eu digo isso, senhor José Maria, porque nunca vi um escravo que gostasse de ser escravo.

Aliás, muito pelo contrário, os médicos cubanos têm dado declarações no sentido de que estão muito satisfeitos por estarem aqui, de que não visam somente dinheiro porque o Estado cubano lhes deu a formação que têm, deu assistência médica, educação, moradia, alimentação a eles e às suas famílias. Então, trata-se de uma realidade diferente da nossa.

A questão que surge, portanto, é sobre como pode o sindicato do senhor querer defender os médicos contra a própria vontade deles.

José Maria Pontes – É, mas, veja bem, não é defender os médicos, é a questão do trabalho escravo independentemente da vontade de quem está sendo submetido a trabalho escravo.

Cuba é um país extremamente pobre. Ora, pra você formar um médico é difícil e Cuba exporta milhares de médicos para Venezuela, para a Bolívia… No Brasil, no segundo país que mais forma médicos, você não tem condição de formar tantos médicos para exportar.

Blog da Cidadania – Mas acontece, senhor José Maria, que, em Cuba, o ensino é gratuito. É difícil formar médicos no Brasil porque as faculdades privadas custam uma fortuna e para entrar nas públicas tem que estudar em escolas caras, cursinhos caros e poucos têm condições.

José Maria Pontes – É que precisa uma escola equipada, com bons profissionais…

Blog da Cidadania – E o senhor acha que não tem isso em Cuba? Porque seus indicadores de saúde são muito superiores aos nossos. Expectativa de vida, mortalidade infantil… Aliás, a mortalidade infantil em Cuba é menor do que a dos Estados Unidos.

José Maria Pontes – Veja bem, eeehh… Em Cuba você não tem a violência que tem no Brasil e o trabalho que eles fazem, que todo mundo comenta, é que esses profissionais não são médicos, eles são formados num nível intermediário para trabalhar no interior…

Blog da Cidadania – Ah, o senhor me desculpe, mas os currículos desses médicos foi divulgado. A maioria é versada em mais de uma especialidade. Todos têm mais de uma década de experiência na profissão. Como não são médicos?

José Maria Pontes – Não, não, eles não são médicos de verdade, eles são formados em atenção básica…

Blog da Cidadania – Qual é a fonte da sua informação, porque diverge do que vem divulgando o Ministério da Saúde.

José Maria Pontes – Não, não, eles são só médicos de atenção básica…

Blog da Cidadania – Então agora são médicos? E apesar de seus currículos dizerem que não são formados só em atenção básica… Até porque, mesmo o maior especialista de Cuba é formado, também, em atenção básica, ou em saúde da família. É a lei de lá.

José Maria Pontes – Olha, eu vou ter que viajar. Meu avião está saindo.

Blog da Cidadania – Ok, senhor José Maria Pontes.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Encontro em São Paulo reúne feministas de cinco continentes

Por Maíra Kubík Mano

No ano passado, a Turquia, até então reconhecida mundialmente pela preservação do secularismo, introduziu o ensino religioso nas escolas públicas. Aos poucos, tem também diminuído a oferta de vagas em colégios considerados laicos.

“Isso traz a segregação entre os sexos e acaba limitando as garotas ao lerem o Corão”, lamenta a líder feminista Yildiz Temurtukan. De acordo com dados divulgados por uma organização de professores, apenas 360 mil estudantes conseguiram se matricular para cursar o Ensino Médio tradicional no próximo período letivo. O restante, cerca de 700 mil, terá de frequentar instituições que privilegiam o estudo do Corão.

Para Yildiz, não é à toa que na última década o índice de feminicídio no país aumentou 14 vezes. “Tudo isso é provocado pelos representantes do governo. Eles declaram abertamente que mulheres e homens não são iguais e nem poderão ser”, relata.

Foto: João Sinclair

“Mas as mulheres estão na linha de frente das lutas, nas ruas, nos parques, nos fóruns. Estão comprometidas a não se subordinarem ao fascismo islâmico”, anima-se. E é essa experiência de resistência e o cotidiano da Turquia que Yildiz espera compartilhar ao desembarcar no Brasil para o 9º Encontro Internacional da Marcha Mundial de Mulheres (MMM).

Junto com ela, outras 1.600 participantes se reunirão a partir de hoje no Memorial da América Latina, em São Paulo (SP). “É uma porta aberta por onde passam todas as análises internacionais, lutas e alternativas. É um espaço que nos faz sentir mais forte contra os nossos inimigos”, define Yildiz.

Em 31 de agosto, elas farão um ato pelas ruas da capital paulista para “reafirmar o feminismo como projeto para mudar o mundo”.

Perspectivas

A MMM começou sua atuação em 2000, quando mulheres de 159 países se uniram em uma grande campanha contra a pobreza e a violência. Desde então, a cada cinco anos, a MMM tem organizado mobilizações globais. A próxima, que acontecerá em 2015, será discutida no encontro do Brasil.

“Uma das questões colocadas para nós hoje é o debate das alternativas. Há uma expectativa grande das participantes por acreditarmos que a América Latina tem possibilidades diferentes de ação”, defende Nalu Faria, coordenadora da SOF (Sempreviva Organização Feminista).

“Há um discurso de igualdade, que toca muito no tema da paridade, e dá a ideia de que a questão é a participação das mulheres. Mas não foca na transformação dos espaços de poder e de participação”, afirma. “Uma questão fundamental é o aporte do feminismo, é pilharmos o conceito de política e de economia, questionando o traço patriarcal e androcêntrico de nossa sociedade de considerar como público, político e econômico só aquilo que está dentro das representações do que é o mundo masculino”.

Patriarcado

Sem dúvida, uma das palavras mais ditas e ouvidas no encontro será “patriarcado”. “Temos trabalhado muito em compreender quais são os mecanismos de atuação do modelo patriarcal em relação às opressões. Esse patriarcado existe quando olhamos para o controle sobre o corpo, a sexualidade e o trabalho das mulheres. É um elemento permanente. E qual é realmente a diferença entre a exigência da burca de um lado e a banalização do corpo nu de outro?”, indaga Nalu.

Para Yildiz, “desde o começo da revolução industrial as mulheres têm lutado para serem aceitas como iguais aos homens, para serem aceitas como seres humanos plenos. Apesar de todo o discurso mainstream de gênero, a situação em geral tem piorado. A razão para a resistência aos direitos das mulheres ser tão forte é que o capitalismo é um sistema baseado em desigualdades de gênero. O patriarcado constituiu o terreno invisível para as relações capitalistas visíveis. Na história do capitalismo não há era sem patriarcado e parece que a ideologia do livre-mercado não pode sobreviver sem a exploração e a opressão das mulheres”.

A turca afirma que “não é coincidência que todos os tipos de violência contra mulheres e garotas têm crescido, de estupros coletivos a feminicídios, de violência doméstica a assédio sexual no trabalho. É porque as mulheres estão clamando por sua autonomia, não apenas econômica, mas sobre seus corpos e vidas, de uma maneira organizada ou individualmente. E como nós estamos reclamando nosso lugar no mundo, estamos sujeitas a mais violência, seja do Estado ou dos homens”.

Mas há esperança: para ela, enquanto há 20 anos discutia-se a obrigatoriedade moral da virgindade, hoje é possível falar abertamente sobre assuntos considerados privados, como casamento, aborto e violência doméstica. “E as mulheres têm declarado que não vão aceitar qualquer regra sobre suas vidas e corpos”.

“Queremos dar visibilidade à força das mulheres em construir alternativas nos processos de resistência”, completa Nalu.

http://mairakubik.cartacapital.com.br/2013/08/26/encontro-em-sao-paulo-reune-feministas-de-cinco-continentes/

Clifton Chenier - O rei do Zydeco

The Creole Choir of CUBA

Nessa Mulher

Via Dora Moreira




domingo, 25 de agosto de 2013

Vem pra rua, Fortaleza!

Por Bruno Perdigão

Foto - Fábio LIma

É perceptível a dificuldade de parte população em aceitar que soluções diferentes das convencionais possam ser aplicadas para os problemas urbanos de nossa cidade. Nem sempre é por falta de conhecimento ou informação, afinal, excelentes exemplos de outras cidades estão sendo mais difundidos e a opinião de profissionais ligados ao urbanismo está sendo ouvida. No entanto, quando se propõe soluções inovadoras para Fortaleza, a resistência ainda é muito grande. Parte dessa resistência se deve ao imediatismo característico de como a cidade tem sido feita nos últimos anos: obras e mais obras, sempre no intuito de resolver um problema pontual que se diz urgente. Porém, o que não faltam em nossa cidade são problemas urgentes. Mas como se definem prioridades?

O episódio do viaduto, em Fortaleza, é mais um ingrediente que torna necessário ampliar o debate sobre a Cidade. Dentro desse contexto, o tema da mobilidade urbana aparece ainda mais forte e, como todo tema que ganha destaque, corre risco de sofrer desgastes. Muitas vezes a questão parece ser reduzida apenas a ser contra viadutos ou a favor de faixas exclusivas para ônibus e ciclovias, além de virar discurso fácil pra qualquer gestor justificar qualquer obra. Devemos aproveitar o momento para repensar um ponto fundamental de nossa cidade que é a rua. É um diagnóstico comum dizer que Fortaleza carece de espaços públicos de qualidade, porém, geralmente nos referimos apenas a praças e parques, e esquecemos que a maior quantidade de espaços públicos que temos na cidade é formada por ruas. Dificilmente conseguimos imaginá-la de outra forma que não sendo de asfalto e concreto, feita para carros e não para pessoas. Dessa maneira, estamos abrindo mão de uma enorme área de espaços públicos que poderiam ser feitos de maneira a melhorar nossa qualidade de vida, com mais conforto, arborização, sombra, mais espaços de convivência, de lazer, com menos barulho de buzinas e motores.

As ruas podem ser de diversos tipos, de maneira a atender as demandas específicas de cada área da cidade. Podem ser exclusivas para pedestre, aumentando o conforto do passeio e aumentando o fluxo de pessoas. Podem ter uso compartilhado, em que o fluxo de carro é permitido, mas é controlado. As avenidas podem ter calçadas largas para tornar a via um espaço menos opressor à caminhada. Podemos ter ruas com mais áreas verdes, onde as árvores servem para fazer sombra, melhorando o conforto do transeunte, e os jardins servem para absorção das águas da chuva, contribuindo para diminuir os alagamentos. As possibilidades são muitas e quase nunca discutidas. Repensar a maneira como fazemos nossas ruas é repensar a cidade inteira e essas pequenas medidas feitas em grande escala teriam um impacto muito grande na melhoria da qualidade do espaço urbano.

Mobilidade urbana, no entanto, é apenas um dos fatores do planejamento urbano. Precisamos discutir o uso e a ocupação do solo, a necessidade de adensar áreas dotadas de infraestrutura, um modelo de verticalização da cidade que não seja predatório, as demandas de habitação social, a conservação do nosso patrimônio histórico, a requalificação do Centro da cidade. O planejamento tem que atender a diversas questões. O que não é mais admissível é que todos os projetos e obras públicas da nossa cidade sejam impostos de maneira autoritária: surgem “do nada”, muitas vezes sem autoria explícita, licitados com projeto básico e vendidos como “a única solução viável”. A principal lição que nós fortalezenses precisamos tirar desse imbróglio do viaduto é que podemos e devemos ser ouvidos sobre os projetos desenvolvidos pra nossa cidade. Para isso, os concursos públicos de projeto e os planos participativos são as melhores opções para democratizar as soluções arquitetônicas e urbanísticas.

Existe um esforço por parte de grupos, tanto do setor público como do privado, de desqualificar a ideia de planejamento participativo, geralmente com argumentos de que gera ineficiência e que “a cidade não pode parar”. Mas a quem interessa não ter um planejamento pra seguir? A quem interessa que a população não possa participar das decisões? Para além da discussão técnica, existe um comportamento em nossa cidade que precisa ser superado. Algumas práticas de nossa sociedade - que sempre busca segmentar ao máximo os lugares que frequenta, criando áreas VIP, camarotes, cordão de isolamento, etc -, são refletidos no pensamento sobre a cidade. Para esses setores, é difícil aceitar a ideia de espaços coletivos, acessíveis a todos, onde pessoas de diversos tipos e classes sociais se misturam. Devemos acabar com a tendência constante de segregação dos espaços para, enfim, podermos pensar numa cidade melhor.

Bruno Perdigão é arquiteto e urbanista

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Porque hoje é sexta

Via Bruno Perdigão

"Thalma de Freitas, Mateus Aleluia, nos anos 70 famoso com o grupo Tincoãs.
Juntos, eles cantam "Cordeiro de Nanã", de Mateus e Dadinho, que Thalma já gravou, aqui acompanhados do pai de Thalma, maestro Laércio de Freitas, no piano, e Fabiana Aleluia, filha de Mateus, nos vocais."

Acabou chorare


Por Alberto Villas

Caetano exilado em Londres derramava melancolia num vinil perguntando “cadê o meu sol dourado, cadê as coisas do meu país?” Gil, também em Londres, gravava no Chappell’s Studios um disco em inglês com apenas duas palavras em português: Tão e triste. Por aqui, no país tropical, Gal, mulher fa-tal, cantava: “Tô cansada/E você também/Vou sair sem abrir a porta/E não voltar nunca mais”.

No Rio, o ex-deputado Rubens Paiva, cassado em 1968, era preso em sua casa. Depois sumiria para nunca mais. Carlos Lamarca caia morto com cinco tiros no grande sertão da Bahia, mais precisamente num lugar chamado Pintada. A censura podava o filme “Como era gostoso o meu francês” porque onde já se viu índio nu na tela do cinema? Enquanto isso, o Edifício Andraus em São Paulo ardia em chamas. Era 1971.

O mundo girava. Bangladesh se descolava do Paquistão e o povo sofrido de Bengala ganhava um concerto by George Harrison. Os astronautas americanos passeavam na lua enquanto os cosmonautas soviéticos Patsaiev, Volkov e Dobrovolski morriam sufocados a bordo da Soyus. Louis Armstrong deixava definitivamente esse wonderful world tão sonhado e o Haiti, o pobre do Haiti passava de pai pra filho, de Papa Doc para Baby Doc.


Sem muito dinheiro no bolso e devendo meses de aluguel, cinco novos baianos – Moraes Moreira, Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor, Pepeu Gomes e Baby Consuelo, aquela do nariz arrebitado, se mandavam de Copacabana para um sítio em Jacarepaguá batizado de “Cantinho do Vovô”.
Sorry, John Lennon, mas o sonho por aqui ainda não tinha acabado.

Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso
Jogando meu corpo no mundo
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros.


Fora do eixo e nadando contra a corrente, os Novos Baianos se instalaram ali no meio do mato armando cabanas em cada um dos cômodos da casa. Bilhetes foram espalhados pelas paredes porque era preciso organizar o movimento. Um cozinhava o feijão, outro lavava a louça, um terceiro enxugava. Enquanto um cuidava do banheiro, o outro ia pra roça. O dinheiro que pintava era todo ele jogado dentro de um saco de pano velho apelidado de “mocó”.

A turma foi crescendo, vieram os muitos filhos de Baby e Pepeu, os garotos da Cor do Som, amigos de todo canto e nação. Até um índio boliviano de repente foi morar lá naquele pedaço de terra brasilis.

Era comum tomar banho ao ar livre, ver um novo baiano descascando batatas, outro varrendo o chão, gente pintando e bordando. Ver futebol na televisão era uma paixão que acabou virando o Novos Baianos Futebol Clube, time e disco.

Enquanto eu corria
Assim eu ia
Lhe chamar!
Enquanto corria a barca
Lhe chamar!
Enquanto corria a barca
Lhe chamar!
Enquanto corria a barca.


Nos dias de sol via-se roupas comuns dependuradas e nas noites de viagem, a lua furava o zinco salpicando de estrelas o chão. Lá fora, o Brasil do ame-o ou deixe-o, do Medici ou mude-se, vivia sua repressão enquanto lá no cantinho do vovô era só psicodelismo, curtição e muita criação. De vez em quando o som aumentava, o tempo fechava, a polícia baixava. Um dia a festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou. E o que era doce acabou-se.

Acabou chorare, ficou tudo lindo
De manhã cedinho, tudo cá cá cá, na fé fé fé
No bu bu li li, no bu bu li lindo
No bu bu bolindo
No bu bu bolindo
No bu bu bolindo.


Músicas citadas: If you hold a Stone, One O’Clock last morning 20th april 1970, Movimento dos Barcos, Mistério do Planeta, Preta Pretinha, Chão de estrelas e Acabou Chorare.
Poesia citada: José, de Carlos Drummond de Andrade.


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Salvador da Chegadinha

Via Rubinho Martins

Esse vai  pro Mateus, Bruno, Roberto, Rebeca, Milena, Nathalia, Tiago, Mariana, João Marcelo, Tereza, Fabrício, Camila, João Paulo, Sarah, Rogério, Rafael, Rodrigo, Leo, Levi, Saskia, Lucas, Leonardo, André, Pedro, Giovani, Flora, Iana, Felipe, Alan, Márcio, Ethel, Fernanda, Lauro, Monique, Glicia, Livia, Lilian e Juliana - Bicudos de chegada.
E também aos eternos Bicudos...
  • Excelente vídeo. Dá-lhe Pedro Firmiano. 

Ubuntu Fristaili - Emicida

Via Bruno Perdigão




Ubuntu Fristaili (Emicida)

Axé pra quem é de axé
Pra chegar bem vilão
Independente da sua fé
Música é nossa religião

Ok, ok, ok, ok, jou, seja forte
É nossa cara fazer a vida ser certa mais que a morte
Eu me refaço após cada passo, igual reflexo nas poças
Mandinga, coisa nossa
Eles não vão entender o que são riscos
E nem que nossos livros de história foram discos
Bamba, bamba, um bom samba, alguns petiscos
Ki-Suco rende dois litros, melhor que Frisco
Faz de conta que os racistas não perde a linha
Quando ergo a mão da filha dele sem armas nas minhas
Ruivas, morenas, pretas, divas, loirinhas
Doidas pra curtir quermesse de quebradinha
Onde um DJ comanda e manda, sabe o que faz
MCs são griots, o mic é pros capaz
Toca um "Ré laifai for roc
dérelai for roc, for roc"
E quebra tudo em paz, ou mais, arrepia agora
A África está nas crianças, e o mundo?
O mundo está por fora
Saravá Ogum, saravá Xangô, saravá
Saravá vovó, saravá vovô, saravá
Saravá mamãe, saravá papai, ô
De pele ou digital, tanto faz é tambô
Eu meto essa memo, eu posso
e tô pra ver, algo valer mais que um sorriso nosso
Graças ao quê? Graças aos raps
Hoje eu ligo mais quebradas do que o Google Maps
Então respeite meus cabelos crespos, ok? Ok?
Pronto, falei

Axé pra quem é de axé
Pra chegar bem vilão
Independente da sua fé
Música é nossa religião

Ficha técnica
Voz: Emicida
Percussão: Carlos Café e Julio César
Synths: Felipe Vassão e Maurício Fleury
Programação: Emicida
Baixo: Felipe Vassão
Coro: Tulipa Ruiz, Juçara Marçal, MC Guime, Fabiana Cozza, Isis Carolina, Daniela Rodrigues, Rashid, Rael, Emicida e Kuririn
Gravado na Loud e na Timbre por Felipe Vassão e no C4 por Luis Lopes e Gabriel Bueno

Contra o estigma

Por Pedro Paulo Zahluth Bastos

Durante os protestos de junho, alguns cartazes pediam a revogação do direito de voto dos beneficiários do programa Bolsa Família. Tratava-se de um eco dos preconceitos veiculados nas redes sociais depois das eleições de 2010, segundo os quais Dilma só se elegera por causa dos votos das famílias beneficiárias, alegação fartamente desmontada por analistas eleitorais. É provável, contudo, que o BF tenha contribuído para a perda de influência de políticos que aproveitavam a dependência de eleitores extremamente pobres para formar clientelas com favores eventuais e personalizados, financiados com recursos públicos. O caráter universalista e regular do BF despersonifica o benefício e o transfere do registro da caridade pessoal para o campo da institucionalidade de Estado.

A desinformação não se restringe ao campo das paixões políticas. Empresários já manifestaram a opinião que o BF reduz a procura por empregos e dificulta a contratação, como se desconhecessem que o valor máximo do benefício é bem inferior ao salário mínimo e que quase metade dos beneficiários é de trabalhadores por conta própria. Alguns estudos mostram, ao contrário, que o BF tem um efeito muito positivo sobre o emprego ao animar mercados locais de bens e serviços de baixa renda. Também há indícios que o programa contribuiu para a redução da migração de regiões pobres para grandes cidades, mas o déficit de capacitação dos beneficiados não os permitiria disputar vagas oferecidas, por exemplo, pela indústria paulista caso forçados à migração.




As pesquisas sobre os aspectos macroeconômicos e macro políticos do BF não foram acompanhadas de estudos amplos sobre o cotidiano, a mentalidade, a subjetividade, as expectativas e mudanças de hábitos das mães de famílias beneficiadas. 

O livro Vozes do Bolsa Família – Autonomia, dinheiro e cidadania, de Walquiria Leão Rego, da Unicamp, e Alessandro Pinzani, da Universidade Federal de Santa Catarina, elimina essa lacuna e contribui para desmontar estereótipos formados a milhas de distância. O livro foi construído em refinada base de ciências sociais e filosofia política para guiar entrevistas com 150 beneficiárias, cuja vida nas regiões mais pobres do Nordeste foi acompanhada em alguns casos por seis anos.

Os autores partem da hipótese que os mitos que culpam o acaso ou os próprios pobres pela pobreza secular herdada legitimam a indiferença dos ricos e humilham os pobres até levá-los à resignação ou, mais raramente, à violência. No Brasil, o predomínio de uma visão liberal que culpa os pobres por sua pobreza tem raízes históricas profundas. Seus antecedentes são os estereótipos que taxaram homens livres e pobres como vagabundos depois da Abolição, e que estigmatizavam o escravo como preguiçoso, leniente, lascivo e que, portanto, só trabalharia sob a coerção mais absoluta.

A força dos estigmas produziu várias consequências políticas. Primeiro, vetou ou limitou políticas voltadas a reformar os arranjos estruturais que reproduzem a pobreza. Esses arranjos resultam da privação histórica do acesso à terra, à moradia e a oportunidades de capacitação política, econômica e educacional de grande maioria da população brasileira. Segundo, legitimou ações que mitigavam os efeitos da pobreza através da caridade, mantida no registro do favor a quem é culpado por seu próprio destino e, paradoxalmente, incapacitado de mudá-lo. Terceiro, emudeceu os pobres que internalizaram a imagem depreciativa e os colocou em situação de dependência pessoal do favor, enfraquecidos como sujeitos de direitos e incapacitados de mudar sua situação. Enfim, a ausência de reparação institucional, a carência de capacitações e a internalização da humilhação se reforçaram mutuamente para reproduzir a pobreza.

O BF, por sua vez, transfere o registro da pobreza (e sua atenuação) do campo da caridade pessoal para a esfera da responsabilidade institucional e do direito à cidadania substantiva, ou seja, parte do reconhecimento institucional de uma dívida social e inicia o processo de habilitação de cidadãos. É diferente do assistencialismo tradicional porque, primeiro, assegura regularmente o atendimento de necessidades básicas sem as quais qualquer direito à cidadania é puramente formal. Segundo, exige a contrapartida da frequência escolar e, de fato, reduz o trabalho infantil, a repetência e a baixa escolaridade nas famílias beneficiadas, um arranjo central da reprodução da pobreza e subcidadania. Terceiro, a transferência de dinheiro aumenta a responsabilidade individual e confere uma autonomia mínima antes desconhecida pelas mães beneficiárias.

Os autores partem da teoria de Georg Simmel a respeito do poder liberatório do controle do dinheiro sobre relações de dependência pessoal opressoras e para a construção de subjetividades autônomas. Todavia, rejeitam a proposta liberal que a transferência de renda monetária deva substituir e não complementar outras políticas sociais e de desenvolvimento regional, sem as quais o processo de habilitação de cidadãos não avançará. Sem escolas de qualidade, infraestruturas que aumentem o acesso a serviços públicos e apoio a atividades econômicas locais, as capacitações necessárias para a superação social da pobreza terão um desenvolvimento limitado. A luta das famílias por tudo isso, porém, era inviável enquanto se mantivessem em situação de extrema precariedade monetária. “Qualquer solução diferente da distribuição de uma renda monetária poderia ser classificada como assistencialista e até paternalista”, afirmam.

As entrevistas revelaram que a bolsa é a primeira experiência de renda regular para boa parte das beneficiárias. Essa experiência parece mudar a subjetividade e iniciar a superação da cultura da resignação com sua sina, da qual esperam subtrair os filhos. Para muitas famílias, simplesmente inaugura a experiência de planejamento do uso do dinheiro e de formação de economias para gastos maiores. Constatou-se enorme moralidade no planejamento do gasto, voltado à garantia da alimentação dos filhos, roupas e material escolar, porém complementando outras fontes de renda, com o tempo, até a compra de móveis e eletrodomésticos básicos. O desperdício com cachaça é um mito conveniente.

Os autores defendem que a ampliação dos direitos de cidadania seria reforçada se as prefeituras não se limitassem a cadastrar as beneficiárias mas criassem canais de interlocução e controle social do programa. Afinal, o BF não assegura nem a solução do problema da pobreza nem a formação de uma cultura de cidadania ativa, embora seja o primeiro passo indispensável para ambas. Seu principal efeito, argumentam, não é o de superar o círculo vicioso da pobreza, mas iniciar um círculo virtuoso dos direitos, em que a expansão de um direito dá origem a reivindicações por outros direitos, em uma luta pelo reconhecimento da legitimidade de novas expectativas. Se estiverem certos, os filhos das famílias beneficiárias não apenas terão mais capacitações que os pais para cruzar as portas de saída do programa. Nos protestos de rua e de campo no futuro, portarão os cartazes que os pais estiveram incapacitados de escrever.

*É professor do Instituto de Economia da Unicamp

A Via Uruguaia

Por Vladimir SafatleOs países latino-americanos que assumiram uma via à esquerda confrontam-se atualmente com a necessidade de reinventar seus caminhos. Venezuela, Equador, Bolívia, Argentina, Brasil e Peru passam, cada um à sua maneira, por desafios oriundos de seus modelos de governo.

Argentina, Brasil e Venezuela são sacudidos por manifestações que pedem mudanças nos governos, mesmo que, no caso brasileiro, a base dos manifestantes não seja a mesma encontrada na Argentina e Venezuela. Em larga medida, temos no nosso país uma insatisfação com a timidez das políticas sociais e reformistas do governo, o que não é o caso em nossos vizinhos, assombrados com um descontentamento alimentado, em grande parte, de setores conservadores da vida social. Equador e Bolívia, por sua vez, ainda estão em um processo de reinvenção de suas instituições. Isso os torna, muitas vezes, dependentes de figuras carismáticas incumbidas de levar a cabo o processo de transformação política e refundação do país. O Peru, de Olanta Humala, ainda é uma incógnita nesse processo.



José Alberto Mujica Cordano, conhecido popularmente como Pepe Mujica - Presidente do Uruguai
Em todo esse cenário, um país se destaca, no entanto, de maneira inesperada e impressionante. Trata-se do Uruguai. Há tempos a pequena nação ganha evidência na mídia latino-americana e mundial graças à sua corajosa política de modernização social que a colocou na vanguarda em temas essenciais: aborto, casamento homossexual, entre outros. Agora, vemos os uruguaios prestes a inaugurar uma prática inovadora no que diz respeito à política relativa a drogas, por meio da estatização da produção e do controle do consumo de maconha.

A capacidade dos uruguaios em assumir riscos e procurar inventar novas respostas para velhos problemas é louvável. Mesmo que sua política relativa a drogas possa produzir novos problemas, é certo que as práticas de combate e criminalização usadas compulsivamente no resto do mundo demonstraram-se radicalmente ineficazes e contraprodutivas. Chegou a hora de procurar alternativas e, neste ponto, os uruguaios têm algo a nos ensinar.

No que diz respeito a uma política de esquerda, há de se admirar a via uruguaia. Ela baseia-se na ampliação da pauta das questões políticas e na incorporação, sem medo, das demandas sociais de modernização de costumes. Algo completamente diferente do que tem acontecido no Brasil, onde a escolha foi pela tentativa de empurrar paulatinamente pequenas mudanças, na esperança de que elas acabem assimiladas aos poucos pela sociedade. Nesse ritmo, talvez, daqui há 15 anos conseguiremos discutir francamente questões que os uruguaios já terão resolvidos.

Outro ponto que chama a atenção da experiência uruguaia é seu presidente. Contrariamente a certa tendência bonapartista que, vez por outra, precisamos lidar no campo das esquerdas, eles optaram por colocar à frente do processo político uma espécie de antilíder, cujo carisma vem exatamente de seu desconforto aberto em relação aos ritos do poder. Alguém que parece a todo momento dizer não se enxergar como um presidente e que se recusa a abandonar sua vida espartana, seu sítio modesto e seus hábitos e roupas comuns.

No fundo, ele acaba por encarnar uma ideia fundamental da democracia, a saber, a defesa de que qualquer um deve ocupar o lugar central do poder, pois ninguém pode simplesmente encarná-lo. Ou seja, o mais indicado a ocupá-lo é exatamente aquele que tem as qualidades de “qualquer um”, não no sentido de ser alguém sem valor, mas no sentido de ser alguém sem desejo de encarnação. Alguém que tem a liberalidade de deixar o lugar do poder vazio e, por isso, encontra uma força inaudita por meio exatamente da expressão de seu franco desprendimento.

Trata-se de uma lição política merecedora de nossa admiração, a saber, a compreensão de que o melhor líder é aquele que sistematicamente recusa-se a se ver como tal. Não deixa de ser irônico perceber que exatamente esse tipo de ator político permitiu ao país ir em direção a lugares que os outros não foram sequer capazes de imaginar.

Assim, no momento em que a esquerda latino-americana precisa reinventar sua política e sua pauta, em que setores da esquerda afundaram-se na fascinação pelas benesses materiais do poder, o Uruguai parece encarnar experiências que merecem nossa lembrança.

O que dirá o mundo - OTTO



O que dirá o mundo (Otto e Lirinha)

que dirá o mundo sobre as cidades?
Eu até estarei, reconheço a cidade

Em cada rua uma dor
Em cada dor, desabafo
Em cada corpo que eu acho eu trafego comigo
Eu lhe peço um abrigo

Eu divido contigo minha angústia e o meu pão
Eu divido contigo minha angústia e o meu pão

Buraco negro, elevadores, ela não sabe
Não há mais vagas
Olha as raízes dos postes de luz
E a concretagem das novas colunas

Becos e praças são feitos para as desgraças
O amor e o medo são pontas de facas

Mas não espere, não, pegue na contramão
E vai juntando as vidas perdidas
Mas não demore, não, pegue na contramão
E toque as filhas perdidas, perdidas
As filhas, as filhas

Onde começa, ela não sabe
O sol da laje, lembro do mar
Levantamento das quadras armadas
Quero você para sempre esta noite

Becos e praças são feitos para as desgraças
O amor e o medo são pontas de facas

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Os jornais precisam de fotógrafos?

Por José Afonso da Silva Junior

Alex Garcia/Chicago Tribune/DivulgaçãoAlex Garcia/Chicago Tribune/Divulgação

O noticiário especializado em jornalismo e fotografia foi pego de surpresa, no dia 1º de junho de 2013, com uma notícia inusitada: o jornal americano Chicago Sun-Times demitiu toda sua equipe de fotógrafos e atribuiu aos repórteres de texto a responsabilidade de fotografar e filmar suas reportagens. De um modo direto, a medida colocou 28 profissionais de fotografia, alguns veteranos, com mais de 20 anos de profissão, na rua e, indiretamente, atingiu mais 40 jornais de bairro afiliados ao grupo.

Surpresa? Ou coragem de assumir de modo tão duro o cenário de polivalência que habita a convergência tecnológica? Em tempos de aparelhos capazes de fotografar, redigir, acessar a internet, ativar redes sociais e até telefonar, surge o raciocínio distorcido de que, se o dispositivo é multimídia, o usuário que o opera também o é. Isso se agrava ainda mais quando temos um pensamento tecnologicamente determinista que dita as mudanças a partir do cenário tecnológico, e não do conjunto de saberes específicos que orientam uma determinada profissão.

O óbvio parece, nesse caso, não ter sido percebido, ou foi deliberadamente ignorado. Uma equipe de fotógrafos, mais que operadores de sistemas e rotinas para a produção de imagens sobre o cotidiano, possui a habilidade de contar histórias com imagens, desenvolvendo para isso, um conjunto de saberes específicos vinculados à compreensão visual da notícia e seu impacto na sociedade. Saber se mover, entender o que está em jogo em determinada situação, cultivar fontes, enfim, um fotorrepórter, antes de ser um fotógrafo, é um jornalista que opera a câmera e a cadeia de produção de imagens.
Antes que esse texto possa parecer defesa de reserva de mercado, a ressalva a ser feita é inverter a situação: imaginemos se o fardo de assumir uma função a mais (algo que os repórteres de texto no caso receberam “de presente”, diga-se de passagem) fosse dos fotógrafos e, de uma dia para outro, eles tivessem que assumir a função de redigir as notícias? Como reagiria a comunidade de repórteres e redatores?

A justificativa para uma opção de travestir repórteres em fotógrafos está baseada numa ordem financeira, em que os departamentos de fotografia dos jornais sempre foram estruturas caras e onerosas, e pelo fato de, contemporaneamente, muitas das imagens mais vistas ou acessadas pertencerem a circuitos de vigilância, câmeras de celulares ou amadoras, produzidas pelos leitores e cidadãos comuns. Em um mundo de hipervigilância e hipervisibilidade, é óbvio que o fluxo de imagens produzidas por câmeras onipresentes vai compor o horizonte visual da construção da realidade em forma de notícia.

Em um mundo onde são produzidas milhões de imagens por dia, a fotografia numa visão estreita e míope, é apenas mais um conteúdo digital que é embalado ao redor do texto. Raciocínio direto: o que acontece com toda mercadoria que passa a existir em excesso?

Mas, ao falarmos de fotografia do dia a dia, feita de modo vernacular, estamos tratando de algo muito diferente da fotografia de imprensa e de notícia. Querer transportar o que acontece no geral para o específico de uma profissão é uma nítida falsificação, que só pode ser compreendida pelo viés econômico, pelo total descompromisso com qualidade editorial, e por largas parcelas de falta de respeito.

A crise precipitada no Chicago Sun-Times ocorre no choque entre o excesso de fontes produzindo imagens, levando a uma brutal queda do poder de negociação dos fotógrafos dentro das dinâmicas dos jornais, por espaço de trabalho e também remuneração. Assim, os canais de operação outrora estáveis hoje se afunilam e se deslocam de lugar, física e simbolicamente, de produção, saindo de temas mais densos e que exigem maiores aportes de cobertura.

É sintomático deste quadro também a produção do conjunto de imagens que se destinam mais ao acompanhamento de celebridades, do entretenimento e do sensacionalismo. Ou seja, assuntos que demandam uma formação de repertório, custo e problematização de baixo nível. Ao seu modo, há profissionais que também engoliram o caramelo envenenado do “óbvio eficiente”, conceito forjado pelo fotógrafo Hélio Campos Melo. Nele, a imagem não perdeu sua competência, perdeu a sua eficiência, porque só se faz o “óbvio eficiente”, ou seja, uma imagem mais pobre, sabendo que ela vai alcançar o maior número de pessoas, num universo dado. O difícil é fazer uma foto que leve a pensar um pouco mais, que reflita sobre o que está feito.

A questão pontual é que, se temos o excesso de imagens digitais, há a contrapartida da possibilidade de termos um fotojornalista em 200, 250 ocasiões de cobertura por ano, cobrindo pautas de modo sistemático, regular e capaz de gerar boas imagens. Na contraparte, um repórter-cidadão faz uma ou duas fotos, com sorte, sob o ponto de vista de noticiabilidade, jornalisticamente boas. Portanto, fora dos aspectos puramente econômicos e de gestão, não há competição. São posturas e conhecimentos diferentes diante dos fatos. Se houver dúvida quanto a isso, faço o desafio a qualquer editor de jornal: proponha aos seus leitores ficar de plantão, à noite, debaixo de chuva, sem hora para voltar pra casa, para obter uma imagem relevante e veja se ele topa sair do conforto de casa para encarar esse tipo de empreitada.

Lembrando um editor amigo que sempre falava que “todo dia tem jornal”, a questão posta à mesa parece clara: há um cenário que pede um reposicionamento de práticas, que agregue e filtre a enxurrada de imagens em que estamos imersos. Mas confundir esse estado de coisas com a necessária desarticulação de equipes de fotojornalistas é um equívoco que cobrará caro à sua adoção.

Porém, o caso do Chicago Sun-Times é um alerta. Não o primeiro. Quem capitaneou essa demissão em massa foi Tim Knight, que já havia feito exatamente a mesma coisa antes, no Newsday(eliminar o departamento de fotografia). Não há surpresa. Sob um ponto de vista cruel, frio e mesquinho, freelancerscustam menos que staff. Com o sinal vermelho aceso, cabe a quem é repórter fotográfico: 1) perceber que os valores editoriais não irão melhorar por si sós; 2) que a fotografia não irá se tornar, nos jornais e de uma hora para outra, algo valorizado. Para essas duas apostas vingarem, é preciso investir em conteúdos, práticas, repertório e criatividade capazes de reoxigenar a cadeia produtiva da fotografia de imprensa. Assim, talvez se encontre a rota de fuga do que surge da triangulação entre a falta de recursos, a falta de modelo de gestão e a falta de respeito. Hora de pensar e agir como o jogo será, e não como era.

[A eternidade de um instante]

Por Iana Soares

Quantos desconhecidos cabem nos teus sonhos e futuros? De quantos mistérios é feita a tua solidão? Quais esperanças restaram depois de tanta seca, tanto sal, tanta lágrima? No lugar de respostas, três sorrisos e algumas angústias. Perdemos a conta. Te vejo percorrer o centro de cada desilusão, inquieto, tentando inventar novos caminhos. É a luz, você justifica. É a luz que te confunde, embaralha tuas certezas e te guia. Sempre intensa, às vezes frágil, nunca indiferente. 

Autorretrato - Iana Soares
Espalho as tuas janelas sobre a mesa. Observo, sem pressa, a eternidade de cada instante. É um segundo, você me diz. É uma vida inteira, te explico. Não há relógios que acompanhem as nossas expectativas. Talvez tudo seja ligeiro, água que escorre e logo seca. Você toca meus dedos e procura o rastro molhado daquilo que vivemos. Até abrimos mão das dores e corremos, leves, feito criança que não entende de futuros e gasta o sorriso como se fosse algodão doce: delicioso e efêmero. Mas outra vez você percorre o 10x15 do retrato em busca das rugas de um passado recente, impregnado. Para quê tanta ansiedade?

Te mostro outra fotografia e você acha que é espelho. No reflexo, percebo que tudo é diametralmente oposto. Para cada identidade, mil mosaicos. Se existe cor, logo tudo vira preto e branco. Saudade, presente. Passado, viagem. Mestre, aprendiz. Ruído, silêncio. Pobreza, abundância. Onde há vazios, explodem desejos. No jogo, inverto ficção e realidade. Esqueço qual imagem vinha antes e, tal qual cobra de duas cabeças, não há mais fim ou começos.

Quando foi a primeira vez que você me encarou? Ali, quieto, pescador com isca pronta. Não te vi, nunca vejo. Apenas intuo. Pressinto cada clique que você nunca me devolveu. É tudo seu, você joga no meu colo. Queria que fosse nosso, grito em mais outro sussurro. Você entende e agradecemos ao acaso e a cada escolha que fizemos, tão cheios de esperanças. É do conflito que nasce cada pixel. É do amor que sobrevivem algumas imagens.

Não sei se é miragem, não importa. Vivemos. Pensamos, sugerimos, odiamos, conversamos, insistimos, amamos. Sonhamos. E é por não saber fazer de outro jeito que arriscamos. Somos invenção. Fotografamos.

Publicado na revista "Olho de peixe" e no Facebook - https://www.facebook.com/ianascm?hc_location=stream

Policarpo - Num sábado de agosto no bar do Arlindo

Por Marcus Vinicius

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Policarpo - bar do Arlindo agosto 2013

Por Marcus Vinicius

Policarpo no Arlindo - Sábado 17 de agosto de 2013.

Por Marcus Vinicius


































Estrela de Madureira

Por Marcus Vinicius

Para JJ

Pensarei (Pantico Rocha e Marcus Dias)

Por Alfredo Pessoa

Anteontem (16/08) recebi um email com uma música gravada dizendo..."veja se gostas desse samba?" Analisei primeiro a letra e perguntei..."é tua ou PENSAREI que é do marcão?". Resposta: marcão. Então devolvi o email com a cifra e perguntei..." a cifra tá boa". Resposta: "sim". Aí segue um novo samba, muito bom por sinal, de Pantico e Marcus Dias. A banda Academia já está executando a peça.

Pensarei (Pantico Rocha/Marcus Dias)

D6(9)                                      B7(b13)          Em7(9)

Agora que eu posso pensar, pensarei sem amargura

                             A7(13)                                D6(9) A7(b13)

A paixão que não se esquece, o amor que não se cura

D6(9)                                       Am7(11)     Ab7(b5)  G7M

Depois se ninguém reclamar pensarei de qualquer jeito

C7(9)                      F#m7 Bm7 Em7(9)   A4(7)   D6(9)

No amor com dor na alma na paixão com dor no peito

                        F#7       Bm7       Am7   D7(9) G7M

Quem sabe eu decida voltar à metade do caminho

      C7(9)                F#m7             E7                   A7

Da paixão que me maltrata do amor que faz carinho

       Bm7     F#7      Bm7      Am7      D7(9)    G7M

Por isso eu preciso pensar, pensarei daqui a pouco

       C7(9)                  F#m7 Bm7 Em7(9)      A4(7) D6(9)

Se o amor me deixou cego se a paixão me deixa louco

                      F#7       Bm7     Am7 D7(9) G7M

E até que eu resolva parar, pensarei na fantasia

      C7(9)                    F#m7       E7                A7

Da paixão na mesma tarde do amor no outro dia

       Bm7            F#7    Bm7       Am7      D7(9)      G7M

E agora que eu posso pensar, pensarei com todo afinco

      C7(9)                 F#m7 Bm7 Em7(9)         A4(7) D6(9)

No amor de três as quatro, na paixão de quatro as cinco


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Aracy de Almeida - 19 de agosto de 1914

Aracy de Almeida, a maior interprete de Noel, completaria hoje 99 anos.

Aracy de Almeida



A esquerda e a direita, segundo Deleuze

Por Felipe Araújo

Recentemente, voltou a circular no Youtube um vídeo em que o filósofo Gilles Deleuze (1925-1995) aparece falando sobre o significado de ser de direita ou de esquerda (http://bit.ly/11SZAxH). Para o pensador francês, o limite entre as duas posturas é dado por uma questão de percepção. A direita pensaria a partir de si, de dentro para fora; já a esquerda pensaria num fluxo inverso, de fora para dentro. Traduzindo nas palavras do próprio: “Não ser de esquerda é como um endereço postal. Parte-se primeiro de si próprio, depois vem a rua em que se está, depois a cidade, o país, os outros países e, assim, cada vez mais longe. Começa-se por si mesmo e, na medida em que se é privilegiado, costuma-se pensar em como fazer para que esta situação perdure”.

Já “ser de esquerda”, para ele, seria o contrário. “É perceber… É um fenômeno de percepção. Primeiro, vê-se o horizonte e sabe-se que não pode durar, não é possível que milhares de pessoas morram de fome. Isso não pode mais durar. Não é possível esta injustiça absoluta. Não em nome da moral, mas em nome da própria percepção”.

Além de propor o pensamento de esquerda como um devir, e não como algo estático, dogmático, as ideias de Deleuze têm o mérito de, em boa medida, superar o ranço binário e maniqueísta na hora de dividir os interlocutores à mesa de debate. “Ser de esquerda é começar pela ponta. Começar pela ponta e considerar que estes problemas devem ser resolvidos”, ele reforça.

Diante do debate sobre mobilidade urbana que está na ordem do dia em todo o País, talvez pudéssemos pensar, à luz das ideias de Deleuze, em cidades de esquerda ou de direita. Assim, teríamos cidades que privilegiariam o transporte individual, suas demandas e seus caprichos, e que buscariam a todo custo (ambiental, inclusive) a preservação de seu establishment. E teríamos cidades que seriam pensadas e construídas a partir do coletivo; com um olhar mais generoso às demandas da coletividade, um ethos mais solidário.

Nossa Fortaleza, caro leitor, como você a definiria?
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2013/08/19/noticiasjornalopiniao,3113190/a-esquerda-e-a-direita-segundo-deleuze.shtml