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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Boi em Pó

Via Tiago Porto
Ô povo danado. ô midia...
BOI EM PÓ
A tecnologia é um sucesso
Até já inventaram boi em pó...
Problema é transportar mercadoria
Não dá pra ir pro açougue de trenó
O helicóp-tero
Do frigorí-fico
Teve que pousar pra fazer manutenção
Os federais apreenderam o boi em pó, ô dó!
Causando uma confusão!
Olha o boi em pó, olha o boi em pó
Mais fácil de transportar
Difícil é fazer churrasco
Porque não dá para mastigar
Olha o boi em pó, olha o boi em pó
A mais nova invenção
Facinho de empacotar
E nem é contravenção...
O boi faz : múuuu
E o helicóptero: pópópópó
Olha o boi em pó, olha o boi em pó!
Que o heliPÓptero vai transportar!

A imprensa e o suposto caso de tráfico

Por Jornalismo Wando





A imprensa está sendo acusada de minimizar um suposto caso de tráfico internacional que supostamente envolveria parlamentares oposicionistas supostamente ligados a Aécio Neves. Até o insuspeito Zé Simão entrou na onda acusatória:
Pesquisei o assunto com cuidado e posso garantir aos meus leitores que trata-se do mais absolutotrololó. Vamos aos fatos: Gustavo Perrella, deputado estadual mineiro pelo Solidariedade e filho do senador Zezé Perrella, foi traído por um de seus melhores funcionários. Infelizmente, o empregado abusou da confiança - e vocês sabem como está complicada essa gente hoje em dia! - e foi flagrado usando o helicóptero particular de Perrella para transportar quase meia tonelada de pasta de cocaína.
O deputado mineiro foi tão surpreendido com a barbaridade que estava sendo cometida em sua aeronave, que imediatamente acusou o piloto de outro crime: o roubo do helicóptero. Diante do desmentido do funcionário, Perrela subitamente lembrou que havia autorizado aquela viagem através de duas mensagens de celular, e então mudou sua versão. Admitiu que a aeronave não tinha sido roubada e confirmou a liberação do transporte de "insumos agrícolas".
Bom, por que a acusação dirigida a nós da grande imprensa é injusta? Ora, com Dirceu, Delúbio e Genoíno presos, estádios da Copa desabando, e todo o caos político, econômico e social que vivemos, um caso desses automaticamente ganha menor importância. Um simples piloto que trafica drogas escondido do patrão não é e não deve ser um assunto do interesse público.
Eu e outros colegas da imprensa, por exemplo, mal estávamos "acompanhando esse caso":
Entenderam por que não damos tanto destaque ao assunto? Isso é papo de piloto, uma pauta no máximo para o jornalismo especializado em aviação civil, não para quem cobre os acontecimentos políticos do dia a dia.
Perguntam também o que nos levou a abafar um suposto escândalo de 2011 envolvendo a família de Aécio Neves, apenas porque esta é intimamente ligada à família Perrella. Conto-lhes mais este trololó:Tancredo Aladin Rocha Tolentino, primo de Aécio, carinhosamente conhecido como "Quêdo", foi preso por chefiar uma quadrilha acusada de vender absolvições para traficantes de drogas, além de ter sido condenado em 97 por crime contra o patrimônio e contra a economia popular. Quase na mesma época, outro primo de Aécio, Rogério Lanza Tolentino, havia sido condenado a 7 anos e 4 meses de prisão por lavagem de dinheiro. Todos esses assuntos não tiveram destaque no Jornal Nacional, não tocaram na CBN e não foram analisadas na A2 da Folha. Claro! As provas contra eles são escassas. Isso fica claro quando constatamos que Quêdo conseguiu um habeas corpus e, logo em seguida, tentou sair candidato à prefeitura de Claudio (MG) pelo PV, quando foi barrado pelo Ficha Limpa.
Poucos sabem, mas Quêdo é uma pessoa muito família, um cara do bem. Organiza as cavalgadas com familiares seus (e dos Perrella) em sua fazenda, comanda a cachaçaria da família Neves em Cláudio (MG) e sempre foi muito querido por todos da região. Quando Aécio caiu do cavalo quebrando 5 costelas, quem estava lá oferecendo o ombro amigo? Ele, o dono da fazenda, o primão Quêdo.
Mas o que o helicóptero de Perrellinha fazendo tráfico internacional* tem a ver com Aécio Neves, que indicou Zezé Perrella para o Senado e cujo primo vendia absolvição para traficantes de drogas? Absolutamente nada. Mas, claro, os patrulhadores da pauta alheia insistem em enxergar nuvens nesse céu de brigadeiro. Tudo isso para tirar foco do que realmente interessa: a prisão dos mensaleiros e os escândalos que a envolve. A gente sabe muito bem como se comporta essa gente chicaneira. #AcordaBrazil
* (atualização via @rei_lux) "Faltou informar que o helipóptero fez uma parada em Divinópolis, onde o primo Tancredinho (Quêdo) liberava traficantes."

SOBRE MEHMARI (BATENDO CONTRA PAREDES).

 Mehmari e Sergio Santos
Via Bruno Perdigão

Por Sergio Santos

Meu querido amigo e parceiro André Mehmari passou recentemente por um episódio que ilustra de forma categórica uma série de questões que se colocam a todos que se preocupam com a cultura, a educação, a arte e a sua propagação nos dias de hoje. André, além de privilegiado por um talento musical incomum, pianista, arranjador, compositor e multi-instrumentista, tem uma característica individual que o distingue: é um dos artistas que conheço que mais encarnam na própria obra (ou seja, muito além do mero discurso) a ausência de fronteiras entre as diversas formas de expressão artística. Transita com destaque, desenvoltura e verdade tanto pela música erudita quanto pela popular, tendo a capacidade de ser premiado e reconhecido em ambas. Isso, garanto, não é nada fácil!

Talvez por essa característica, pouca gente seria mais adequada que ele para fazer parte como convidado de um projeto musical e educacional, que aconteceu em um teatro em Campinas, para 600 jovens de 10-12 anos, alunos de escolas públicas. O projeto de excelentes intenções, se chama “Ouvir Para Crescer”. Segundo relato de André no Facebook, na apresentação havia, na sua primeira parte, um grupo musical e atores caracterizados de palhaços que apresentavam de forma lúdica as propriedades da linguagem da música, e até aí tudo transcorreu bem. Depois meu amigo entrou no palco para apresentar ao piano a obra de Ernesto Nazareth, e fazer com ela as pontes para outras formas de expressões musicais, querendo com isso ilustrar justamente a ausência de fronteiras que o preconceito impõe. Antes mesmo de começar, foi vaiado, xingado e ouviu impropérios, lagartos e cobras que continuaram durante toda a apresentação, vindos de uma platéia que, recordemos, tinha entre 10 e 12 anos! Estupefato, como não poderia deixar de ser, André levou a apresentação mecanicamente até o fim. Foram esses os fatos que, por ele expostos no Facebook, geraram centenas de comentários, além de um texto de José Miguel Wisnick em sua coluna de hoje no O Globo. http://oglobo.globo.com/cultura/2013/05/25/nao-ouvir.

Quero meter a minha colher, com a licença de meu parceiro querido. De onde vem essa reação tão contrastante com o espírito do evento? É preciso, sem justificar, compreender essa reação coletiva. Como bem disse Wisnick, André está longe de ser um cara cheio de mesuras e poses pseudo-eruditas, que poderiam sim antepô-lo à garotada. Pelo contrário, tanto no trato pessoal quanto no palco, é uma pessoa completamente simples, tendo inclusive uma verve acentuada de humor. Por inúmeras vezes falamos tanta besteira no palco juntos, que sugeri a ele em um de nossos shows que, caso a nossa música não desse resultado, poderíamos fundar uma dupla de stand-up, tão em moda, o que certamente iria nos render mais financeiramente que nossas composições, com o que a platéia, aliás, concordou de imediato. Portanto, não está em uma postura formal, rígida, ou em ares de superioridade, a origem da reação agressiva da platéia. Se não é por aí, algo necessariamente tem que ter motivado essa atitude, principalmente se pensarmos que a apresentação anterior ocorreu com tranquilidade.

O problema pode estar então em Nazareth. Há os que argumentaram que a atitude negativa se deveu ao choque de se querer impor a um segmento da sociedade um tipo de linguagem de arte distante dele. Nessa argumentação, a meu ver está a raiz do problema, e mais à frente direi o porque. Discordo veementemente dela! E minha experiência pessoal é o meu maior argumento. Já fui chamado para uma tarefa análoga a de André, há cerca de 10 anos, quando meu filho tinha exatamente essa idade das crianças de Campinas, na própria sala de aula dele, em uma escola particular de classe alta, tida como modelo na educação artística (por isso inclusive meu filho estudava lá). Imaginei uma conversa mais ou menos com a mesma perspectiva da de André, e quando comecei a tentar estabelecer um diálogo, a indiferença e depois a balbúrdia foram tamanhas (inclusive por parte de meu filho), que resolvi desistir e fui embora sem que ninguém ao menos percebesse. Essa indiferença foi para mim mais agressiva do que ter sido xingado, como meu amigo o foi. Conto o episódio porque ele mostra claramente que a questão ultrapassa a maneira de se lidar com uma determinada classe social. Ultrapassa também a questão de educação familiar, uma vez que sou a principal testemunha ocular da educação que meu filho recebe em casa. Há aí um componente que remete a um crescente desgaste e deterioração do ambiente escolar, onde inexiste o reconhecimento da autoridade (o que em nada se relaciona ao combate ao autoritarismo), e que levado às últimas consequências, gera as atuais agressões físicas a professores, alunos armados em sala de aula, etc. Embora ache que isso tenha pesado tanto no caso de André quanto no meu próprio, no entanto, não creio que entender a nossa questão se resuma a isso.

Reafirmo que a forma de ver a raiz do problema esteja na visão equivocada de quem sustenta que a atitude de André quis “impor” Nazareth a um segmento social “incapaz” de compreendê-lo. Vejamos: primeiramente, Nazareth não é dodecafônico, Nazareth não foi um alienígena de difícil compreensão, ou um compositor nascido na Monróvia. Nazareth retirou o material de sua criação da música do povo brasileiro, das ruas, do choro, das valsas, do ambiente musical popular de sua época. Sendo assim, a aberração está não em mostrar Nazareth ao povo, mas no fato desse mesmo povo não ser capaz – não de “compreender” – mas de se reconhecer minimamente em uma obra que se baseia na raiz de sua própria forma de expressão, a ponto de recusá-la com veemência. Se há algo de errado nesse enredo, o erro é esse! E, evidentemente a responsabilidade disso não está nas crianças! Algo tem que ter ocorrido no percurso de tempo de Nazareth até hoje, para fazer com que uma música que tenha vindo tão profundamente do povo não seja reconhecida por esse próprio povo como parte de sua simbologia. É como se eu não me visse em meu avô. E mais, como se eu jogasse uma pedra nele. André não errou ao tentar devolver essa informação tão rica a quem na verdade a originou. (Vou além, se ao invés de Nazareth fosse Chico Buarque, talvez os resultados fossem os mesmos). André acertou na mosca! Erramos fomos todos nós, que construímos uma sociedade imediatista, superficial, incapaz de se enxergar fora dos modelos de consumo que nos são impostos. Erramos na educação, na formação de um povo que tem raízes culturais absurdamente ricas em sua diversidade. Mais que isso, nos mantivemos no erro por nunca termos dado, enquanto sociedade, a mínima importância a toda essa riqueza. Erramos por termos sido barbaramente elitistas, reservando unicamente aos mais favorecidos o conhecimento desse patrimônio, e por termos permitido que a ganância da indústria tenha sido durante todos esses anos o único parâmetro de formação artística a que toda a sociedade tenha tido acesso. E, principalmente, vamos continuar errando, se continuarmos a não enxergar que é imperiosa a necessidade do contato da população com tudo o que de sublime, inteligente, original e genial já se fez artisticamente nesse país. Essa seria e será nossa única forma de corrigir o erro. E se o poder público não se preocupou e nem se preocupa em promover ações sistemáticas nesse sentido, as ações pontuais como essa têm que ser valorizadas! É preciso varrer essa idéia absurda, tacanha, reacionária, mesquinha, atrasada, de que dar ao povo a oportunidade de acesso ao que de melhor se produziu artisticamente é ser elitista ou paternalista. Elitista e covarde é essa visão tão em voga hoje em dia entre um punhado de intelectualóides de buteco, de que tudo é arte, e que a preocupação de fazer com que as classes menos favorecidas produzam a “sua” cultura já seja para elas o suficiente, e portanto prescindam do conhecimento, da informação, do ato consciente e generoso de olhar para trás para conhecer esse vasto mundo já construído, chamado cultura brasileira. Se é positivo o fato das camadas populares deixarem apenas de consumir cultura, passando também a produzí-la com suas próprias linguagens, isso não pode ser confundido com a negação da necessidade do saber. Se há sim um forte preconceito em sentido contrário – que nega as formas próprias de expressão vindas e exercidas pelo próprio povo – há por outro lado o equívoco cavalar dos que vêem nessa expressão uma “pureza” intocável, pelo simples fato de que tenha sido o povo que a gerou, sem perceber o tamanho da tarefa que é formar e educar na perspectiva da arte e da cultura vistas como trajetória histórica. A miopia dessa visão vai a ponto de se considerar imposição uma intenção inequivocamente generosa e justa como a de André Mehmari de colocar a semente de Nazareth no coração desses jovens, já que foi na origem popular deles que Nazareth tirou a semente de sua obra. Sob esse raciocínio, concordo integralmente com Wisnick, é preciso romper os muros e fossos nos dois sentidos. ”O povo sabe o que quer, mas o povo também quer o que não sabe”, frase lapidar do próprio Gilberto Gil. Eu acrescentaria: mesmo para não querer, o povo merece todo o saber.

Há inúmeros exemplos espalhados por aí de iniciativas cobertas de êxito ao se colocar a arte com perspectiva histórica em contato com populações desfavorecidas. Cito uma, na qual o próprio André tem participação: a Sinfônica Heliópolis, que me comoveu com a excelência de seus músicos, todos jovens oriundos de um ambiente socialmente degradado, tocando Stravinsky como gente grande na Sala São Paulo. Não se trata de dizer que Stravinsky é melhor que Naldo, ou de que o tal quadradinho de 8 valha menos que Ravel ou Jobim. Trata-se de que é preciso que se defenda ferozmente o direito de escolha entre um e outro. E, por mais que a população pobre felizmente hoje tenha mais a oportunidade de ter a “mão na massa” no fazer de suas próprias expressões culturais, infelizmente quem não tem a oportunidade do conhecimento jamais terá o direito da escolha, e sem escolha vai sempre estar alijado de sua liberdade mais fundamental. Trata-se aqui é dessa liberdade!

Meu caro André, parceiro e amigo do peito, às vezes nos chocamos com as paredes, mas nada que deva nos desanimar de nos armarmos das nossas picaretas sonoras para derrubá-las. Devagar, essas paredes hão de vir algum dia abaixo. É uma questão da física: a ressonância. O mero ruido do vento, e não a sua força, já foi capaz de derrubar a Ponte de Tacoma, nos EUA. O som tem lá o seu poder. Se vibrarmos nossa música com a frequência correta, ela pode entrar em ressonância com a parede e derrubá-la. Tentemos fazer a nossa parte. É o que de melhor podemos fazer.


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Oya - Metá Metá AO VIVO no Mambembe

Via Bruno Perdigão

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Clementina de Jesus - Incompatibilidade de Genios / Cocorocó

Clementina de Jesus - Fui pedir às Almas Santas

Lulu e a sacanagem desautorizada


POR XICOSA

É, velho Crumb (ilustração), aventuras e desventuras do macho perdido e da fêmea que se acha.

Repare nessa história.

Vingativa, ela queimou o filme dele, um reles ficante –status “rolinho primavera”- no Lulu, o aplicativo que funciona como um clube onde as garotas avaliam os rapazes do desempenho sexual ao caráter propriamente dito.

Ô mundão objetivo e sem porteira. Mas pensando como cronista de costumes, Lulu é apenas uma vingança tardia das velhas notas masculinas para as moças na escola. Vingança lupicinicamente machista, óbvio,só vingança, vingança, vingança aos deuses clamar.

O Lulu é um SPC, um Serasa moral, um cadastro geral dos marmanjos para consumo.

Reproduz, para todas as mulheres do mundo, o que já se faz em pequenas rodas femininas.

Calma, meu rapaz, é só um banheiro ampliado, um tricô ao infinito, um fuxico hiperbólico.

Não vale pedir para as amigas lavar a sua honra, tornando-lhe um homem de qualidades. Relaxa. Leva na esportiva, fair play, brother, fair play.

Deu pra maldizer o nosso lar, pra sujar meu nome, me humilhar… Não passa nada.

O Lulu é a verdadeira biografia desautorizada. O Rei deve ser contra. Detalhes tão pequenos de nós dois são coisas muito grandes pra esquecer.

A avaliação de usos e costumes também está valendo: #UsaRider. Melhor ainda é o critério estético: #CurteRomeroBritto. Essa é genial.

Sim, falam até de pau pequeno (#NãoFazNemCosca é a hashtag maldita), mas, meu amigo, você também acha que tem, por mais que normal ou saído à semelhança do “jumento na sacristia”, como no conto do gênio cearense Moreira Campos. O primeiro insatisfeito nessa parada é você mesmo.

Relax, meu rapaz, leve na buena onda, no humor, na graça, ser maldito também tem seu charme e a vida é sempre mais subjetiva do que sugere o vão aplicativo. Como diz a lírica do Conde do Brega: ninguém é perfeito e a vida é assim.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

"Agredir" para proteger

Por Felipe Araújo

Mais do que a suposta presença de Banksy, o grande rebuliço do Festival Internacional de Arte Urbana – realizado em Fortaleza ao longo da semana passada – acabou sendo a intervenção de alguns artistas no (até então abandonado e negligenciado) Farol do Mucuripe.

Em que pese a pertinência dos argumentos dos que se manifestaram contra a grafitagem – alegando, sobretudo, sua “ilegalidade”, posto que feito sobre um bem público tombado –, a ação dos artistas me encheu de entusiasmo. Foi o tipo de movimento que nos colocou na fronteira potente em que se discutem os pactos sociais e os contratos legais que sedimentam o poder de plantão. Esse, sim, o principal responsável pela degradação criminosa do farol.

Foto: Kiko Silva
Penso, repercutindo ideias do filósofo Vladimir Safatle, que certas “violações” do chamado Estado de Direito são condições fundamentais para que exigências mais amplas de justiça se façam sentir. E o que os grafiteiros “exigem” é justamente um olhar mais criativo e efetivo em relação ao nosso patrimônio (e ao Farol, em particular). Muito diferente (e na direção oposta), portanto, da pressão feita pelo poder econômico (ou pelo próprio poder político) sobre muitos bens históricos. O grafite “agrediu” (e transgrediu) para proteger aquilo que o poder público finge proteger para, afinal, “agredir” (com sua leniência a serviço de conveniências diversas).

Nesse encontro entre arte, política e história, o grafite fez a cidade abraçar novamente o farol e afirmou um novo pensamento sobre Fortaleza. Ainda citando Safatle, “o pensamento, quando aparece, exige que toda ação não efetiva pare, a fim de que o verdadeiro agir se manifeste.

Nessas horas, entendemos como, muitas vezes, agimos para não pensar, pois pensar de verdade significa pensar na sua radicalidade, utilizar a força crítica e a força radical do pensamento”, diz ele. “Quando a força do pensamento começa a agir, então todas as respostas começam a ser possíveis, alternativas novas começam a aparecer na mesa”. Que Fortaleza saiba aproveitar as alternativas diante das quais essa polêmica sobre o Farol nos colocou.

O FAROL TATUADO

por Romeu Duarte

Os escravos me levantaram em meados do dezenove sobre este morrote aqui no Serviluz, sobranceiro sobre o mar e o resto da paisagem da jovem cidade. Construíram-me robustamente neoclássico, minhas paredes de alvenaria grossas de mais de metro, minha planta em octógono, as ameias me dando um ar de castelo. Durante décadas a fio fui segura referência para muito sujeito desnorteado na selva marinha. Tanta nau orientei, tanto barco salvei do naufrágio iminente, o sorriso de alívio dos comandantes e dos pobres marujos. Entretanto, há tempos estou cego. Tem para mais de cinqüenta anos que perdi a luz do meu olho, tiraram-me a tocha de guardião do oceano, aposentaram-me do meu mister. Hoje sou apenas um prédio sobre uma duna, e como dói.


Acervo Nirez
Lembro-me dos meus dias de glória. Elegeram-me símbolo arquitetônico da capital e do estado, minha efígie se encontra no brasão e na bandeira deste Ceará velho de guerra. Ganhei canção bonita do Ednardo e um belo quadro do belga Georges Wambach. A admiração chegou a um ponto tal que, depois de aposentado, transformaram-me em museu e me tombaram como patrimônio histórico. Claro, fiquei orgulhoso, não é qualquer edifício que vira monumento, lugar de memória, da noite para o dia. Se antes era um marco para quem vivia nas ondas, hoje sou, com licença da palavra, bem imóvel protegido. Chique, não? Que nada, quem tiver coragem de me fazer uma visita vai encontrar um triste cenário, de dar dó, de sentar na coxia e verter mil lágrimas de esguicho.

Carrego a má sina do bairro que se me presta de chão. O abandono, a negligência e o desprezo que devotam à gente que resiste aqui são também sentidos por mim. Zona de povo pobre, não vai lá que é perigoso, maconheiro do Titanzinho, rapariga do Farol. A função cultural que cerimoniosamente me reservaram acabou-se, não sirvo mais para nada. Cercado de casebres e tendo como parceiro de infortúnio o arranque de um fortim colonial, estou cheio das mazelas das construções antigas e mal cuidadas. Com as portas sempre escancaradas, sirvo de abrigo aos amores clandestinos e às vítimas dos desarranjos intestinais. Minha espinha dorsal, a escada helicoidal em ferro forjado, comida de ferrugem e sal. Quem deveria zelar por mim só se esquiva.

Hoje de manhã fui acordado por uma algazarra dos diabos. Gente jovem e ruidosa, cabelos ao vento, idéias nas nuvens. Sobre andaimes e com sprays nas mãos, cobriram-me de grafites escuros, guirlandas, barcos, seres imaginários. Sorrindo, dizem que assim prestarão mais atenção em mim, me resgatarão do esquecimento, me recuperarão. Negrada, grato pela força e pelo bom mocismo, mas, como prédio, e tombado, careço de outros carinhos, bem mais adequados e urgentes. Minha natureza é proteger, dar forma a uma função. Restaurado e posto a serviço de um novo e útil uso, tanto poderia ajudar as pessoas daqui, colorindo suas vidas cinzentas. Essas tatuagens ficarão como marca de uma ação bacana ou de um ato inconveniente e ilegal?

Idos os meus pretensos benfeitores, resto na minha mesma melancólica situação, agora vestindo esta nova e berrante roupa que briga com a minha austera modinatura. Ah, Terra da Luz, mãe da marmota. A noite cai, as estrelas surgem no salão do céu, a lua se insinua por entre as nuvens. Aqui é ruim, mas é bom, perto da praia e com a brisa a favor, só falta melhorar. Esses passos a esta hora, quem vem lá? Não acredito, são pichadores e já deram início às suas atividades, subindo por minhas paredes, galgando a minha torrinha, gravando em mim seus rabiscos em sua agoniada coreografia. Meu corpo de pedra e tijolo, um palimpsesto de garatujas incompreensíveis e boas intenções artísticas. E então, amigo, sou patrimônio de todos ou Casa de Mãe Joana?

http://www.opovo.com.br/app/colunas/romeuduarte/2013/11/25/noticiasromeuduarte,3167615/o-farol-tatuado.shtml

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Samba do Fim do Mundo - (Emicida/Felipe Vassão)



Samba do fim do mundo (Emicida/Felipe Vassão)

Somos a contraindicação do Carnaval
Nagô do tambor digital
Fênix da cinza de quarta, total
O MST da rede social
Sabendo de onde vêm as crianças, alarma
Assim como cê sabe de onde vem as armas
Grana de judeu, petróleo árabe, negócios
Mas sangue e suor são sempre nossos, chefe

Vai ter 157 e 12 lá
Enquanto a Unicef vier depois das HK
Sem blefe ou teoria
CDF do que não presta, olha pra esse lugar
E os rapper brinca de cafetão, vim tipo um afegão
Estoura o champanhe, ri da própria extinção
Corremos como Alain Prost
E o prêmio? Frustração, pondo pra baixo, tipo a sombra do Ghost
Nova Tropicália, velha ditadura
Nossa represália, fuga da vida dura
Ação necessária por nossa bandeira
Que isso é a reforma agrária da música brasileira

Quantas noites cortei
É importante dizer
Que é preciso amar, é preciso lutar
E resistir até morrer
Quanta dor cabe num peito
Ou numa vida só
É preciso não ter medo
É preciso ser maior

Somos a bomba, redenção, Napalm
Miséria, cartão-postal
Brasilândia, Capão, Vidigal
Estopim da guerra racial
Foi Amistad, pouca idade, hoje Jihad, problema
Revolução morena
Que se descobre
Quando vê no sistema essa máquina de moer pobre
Os porco reina, orgia
Favela queima como congresso deveria
Eu falo de suor e calos, traumas e abalos
Almas e ralos, São Paulo

Fumaça feia
Capitães do mato versus capitães de areia
Tristeza, pé no chão
No país referência em arma antimanifestação
Ódio na íris, drogas num pires, terra brasilis
Ambição, olhos de Osíris
E só parar quando pôr uma faixa preta no arco-íris

Quantas noites cortei
É importante dizer
Que é preciso amar, é preciso lutar
E resistir até morrer
Quanta dor cabe num peito
Ou numa vida só
É preciso não ter medo
É preciso ser maior
Ê,ê,ê,ê...

Ficha técnica
Voz: Emicida
Participações especiais: Fabiana Cozza e Juçara Marçal
Percussão: Carlos Café
Viola 10 (caipira), sanfona e programação: Felipe Vassão
Synths: Felipe Vassão e Maurício Fleury
Gravado no Parede e Meia por Bruno dos Reis, na Timbre e na Loud por Felipe Vassão e no C4 por Luis Lopes e Gabriel Bueno

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Wilson Simonal e Simoninha - 20 de Novembro



Billie Holiday - 20 de Novembro



Strange Fruit (Abel Meeropol)

Southern trees bear strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black bodies swinging in the southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.

Pastoral scene of the gallant south,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolias, sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh.

Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.

(Tradução)

Fruta Estranha

Árvores do sul produzem uma fruta estranha,
Sangue nas folhas e sangue nas raízes,
Corpos negros balançando na brisa do sul,
Frutas estranhas penduradas nos álamos.

Cena pastoril do valente sul,
Os olhos inchados e a boca torcida,
Perfume de magnólias, doce e fresca,
Então o repentino cheiro de carne queimando.

Aqui está a fruta para os corvos arrancarem,
Para a chuva recolher, para o vento sugar,
Par o sol apodrecer, para as árvores derrubarem,
Aqui está a estranha e amarga colheita.

Negra Li - 20 de Novembro

Jorge Ben Jor e Mano Brown - 20 de novembro

Emicida - 20 de Novembro

Via Tiago Porto

Antonio Vieira - 20 de Novembro

Tia Maria - 20 de Novembro

Criolo - 20 de Novembro

Candeia - 20 de novembro

Via Bruno Perdigão

Clementina - 20 de Novembro



Valeu, Zumbi - 20 de novembro

terça-feira, 19 de novembro de 2013

No Mambembe - Sexta 22 de novembro - METAL METAL

No Mambembe - 22/11/2013 - Rua dos Tabajaras, 368 - Praia de Iracema - Fortaleza

















Juçara Marçal -- voz 
Kiko Dinucci -- voz, violão, guitarra e percussão 
Thiago França -- sax, flaura e EWI
Marcelo Cabral - baixo 
Sergio Machado -- bateria 
Samba Sam -- percussão

Era uma vez...

Por Rogério Lama

Era uma vez um lugar que tinha 3 clubes de futebol: Ceará, Ferroviário e Fortaleza.
Numa ensolarada tarde do Século XVI, Evandro Leitão e Osmar Baquit, presidentes do Ceará e Fortaleza se reúnem e promulgam a seguinte Lei:

Art 1 - Todos os torcedores do Ferroviário Atlético Clube estão proibidos de frequentar estádios de futebol, salvo sob autorização de um torcedor alvinegro ou tricolor.
Art 2 – O Ferroviário está proibido de jogar qualquer partida em território nacional, salvo em amistosos.
Art 3 – É proibida a comercialização de camisas, bandeiras e flâmulas do Ferroviário, bem como sua utilização em público.
Art 4 – É vedado ao Ferroviário remunerar seus atletas pecuniariamente ou de qualquer outra forma.
Art 5 – Todas as emissoras de TV a serem criadas no século XX estão desde já proibidas de veicular qualquer informação que abone o Ferroviário.
Art 6 – A partir da data da publicação desta lei, os atuais torcedores do Ferroviário estão terminantemente proibidos de ensinar à seus filhos a torcerem para o mesmo clube.

Nos dois séculos seguintes Ceará e Fortaleza são agraciados com um estádio cada um, além de uma verba mensal para contratarem jogadores e pagarem as despesas.
Lá em 1884, Evandro encontra Osmar tomando uma num bar lá em Redenção e param pra conversar. Lá decidem que a Lei que criaram não era tão razoável assim. Então num lampejo de desapego e filantropia decidem revogar todos os artigos da Lei. Agora, os três clubes poderiam competir de igual pra igual.
No século que se seguiu, o Ferroviário, que teve sua história devastada, suas finanças quebradas e sua autoestima triturada, competiu com Ceará e Fortaleza com parcos êxitos, mesmo sem estádio e sem receber a verba mensal do governo. Também não restaram muitos torcedores, já que lhes foi negado o simples direito de existir. Com ausência de receita, o time do Ferroviário também não podia pagar um salário digno para os seus jogadores.

Mas tudo bem, o importante é que eles competiam em igualdade de regras.

Um dia o Luis, o novo presidente da Federação decidiu criar uma Lei que permitisse que o Ferroviário recuperasse sua glória perdida séculos antes. Algumas normas garantiam que a Federação custearia a contratação de alguns jogadores para o Ferrão, assim como subsidiaria alguns ingressos à sua torcida, a fim de dar uma maior chance ao time na competição.

Nesse momento não faltaram vozes levantadas dos torcedores do Ceará e Fortaleza. Segundo eles, a melhor forma de recuperar a glória do Ferrão era permitir que eles competissem em igualdade de regulamento. Que as normas criadas pelo Luis só serviam pra criar uma geração de jogadores e torcedores preguiçosos. Que era injusto com alvinegros e tricolores que suavam em seus escritórios para pagar o plano de sócio torcedor Vip. E tem sido assim desde então.

Pronto. Melhor que isso eu não sei fazer.

Supremo Tapetão Federal

Por Ricardo Melo

Derrotada nas eleições, a classe dominante brasileira usou o estratagema habitual: foi remexer nos compêndios do "Direito" até encontrar casuísmos capazes de preencher as ideias que lhe faltam nos palanques. Como se diz no esporte, recorreu ao tapetão.

O casuísmo da moda, o domínio do fato, caiu como uma luva. A critério de juízes, por intermédio dele é possível provar tudo, ou provar nada. O recurso é também o abrigo dos covardes. No caso do mensalão, serviu para condenar José Dirceu, embora não houvesse uma única evidência material quanto à sua participação cabal em delitos. A base da acusação: como um chefe da Casa Civil desconhecia o que estava acontecendo?

A pergunta seguinte atesta a covardia do processo: por que então não incluir Lula no rol dos acusados? Qualquer pessoa letrada percebe ser impossível um presidente da República ignorar um esquema como teria sido o mensalão.

Mas mexer com Lula, pera aí! Vai que o presidente decide mobilizar o povo. Pior ainda quando todos sabem que um outro presidente, o tucano Fernando Henrique Cardoso, assistiu à compra de votos a céu aberto para garantir a reeleição e nada lhe aconteceu. Por mais não fosse, que se mantivessem as aparências. Estabeleceu-se então que o domínio do fato vale para todos, à exceção, por exemplo, de chefes de governo e tucanos encrencados com licitações trapaceadas.

A saída foi tentar abater os petistas pelas bordas. E aí foi o espetáculo que se viu. Políticos são acusados de comprar votos que já estavam garantidos. Ora o processo tinha que ser fatiado, ora tinha que ser examinado em conjunto; situações iguais resultaram em punições diferentes, e vice-versa.

Os debates? Quantos momentos edificantes. Joaquim Barbosa, estrela da companhia, exibiu desenvoltura midiática inversamente proporcional à capacidade de lembrar datas, fixar penas coerentes e respeitar o contraditório. Paladino da Justiça, não pensou duas vezes para mandar um jornalista chafurdar no lixo e tentar desempregar a mulher do mesmo desafeto. Belo exemplo.

O que virá pela frente é uma incógnita. Para o PT, ficam algumas lições. Faça o que quiser, apareça em foto com quem quer que seja, elogie algozes do passado, do presente ou do futuro --o fato é que o partido nunca será assimilado pelo status quo enquanto tiver suas raízes identificadas com o povo. Perto dos valores dos escândalos que pululam por aí, o mensalão não passa de gorjeta e mal daria para comprar um vagão superfaturado de metrô. Mas como foi obra do PT, cadeia neles.

É a velha história: se uma empregada pega escondida uma peça de lingerie da patroa para ir a uma festa pobre, certamente será demitida, quando não encarcerada --mesmo que a tenha devolvido. Agora, se a amiga da mesma madame levar "por engano" um colar milionário após um regabofe nos Jardins, certamente será perdoada pelo esquecimento e presenteada com o mimo.

Nunca morri de admiração por militantes como José Dirceu, José Genoino e outros tantos. Ao contrário: invariavelmente tivemos posições diferentes em debates sobre os rumos da luta por transformações sociais. Penso até que muitas das dificuldades do PT resultam de decisões equivocadas por eles defendidas. Mas num país onde Paulo Maluf e Brilhante Ustra estão soltos, enquanto Dirceu e Genoino dormem na cadeia, até um cego percebe que as coisas estão fora de lugar.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Ela é tarja preta - Felipe Cordeiro

Felipe Cordeiro - amanhã no Festival UFC* de cultura - http://www.festivalufcdecultura.ufc.br/



*Universidade Federal do Ceará

Negócio de Familia (Assis Valente)




Negócio de Família (Assis Valente)


Quando o seu pai me encontrou
lá na praça Paris
de braço dado com você
sem saber minha intenção
se juntou com seu irmão
para me repreender

A senhora sua mãe
quando viu a confusão
convenceu a seu irmão
fez carinhos a seu pai
resolveu nossa questão

agora que já sou seu bem amado
e com sua família eu vou morar
para que seu pai não diga não
eu, você e sua mãe precisamos conversar

A respeito do seu pai
e do seu bom irmão
em sinal de gratidão
pra deixarem de arrelia
brigarão lá na Bahia
procurando Lampião

Pra senhora sua mãe
vai chegar de avião
um bonito Chevrolet
um V8 pra nós dois
e um berço pra depois
se deitar nosso bebé

>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>
Título: NEGÓCIOS DE FAMÍLIA

Gênero: MARCHA
Autor: ASSIS VALENTE
Intérprete: BANDO DA LUA
Data de gravação: 01/12/35
Data de lançamento: jan.1936

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Um favor - (Lupicínio Rodrigues)

Dá-lhe Lupiciio. Dá-lhe Jamelão.

Hino da Portela (Chico Santana)



Hino da Portela (Chico Santana)

"Portela suas cores tem
Na bandeira do Brasil
E no céu também
Avante portelense para a vitória
Não vê que o teu passado é cheio de glória

Eu sinto saudade
Desperta oh! grande mocidade
As suas cores são lindas
Seus valores não têm fim

Portela querida
És tudo na vida pra mim."

terça-feira, 12 de novembro de 2013

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Abaixo, a ironia

por Antonio Prata


Domingo passado, escrevi aqui uma crônica em que satirizava o discurso mais raivoso da direita brasileira. Muita gente não entendeu: alguns se chocaram pensando que eu de fato acreditava que o problema do país era a suposta supremacia de negros, homossexuais, feministas, índios e o "poderosíssimo lobby dos antropólogos"; outros me chocaram, cumprimentando-me pela coragem (!) de apontar os verdadeiros culpados por nosso atraso. Volto ao tema para que não haja risco algum de eu estar reforçando as ideias nefastas que tentei ridicularizar.

Uma sátira é uma caricatura. Escolhemos certos traços de uma obra e produzimos outra, exagerando tais características. Narizes aparecem desproporcionalmente grandes, orelhas podem ser maiores que a cabeça, um bigode talvez chegue até o chão. É como se puséssemos uma lupa nos defeitos do original, a fim de expô-los.

Na crônica de domingo, achei que havia carregado o bastante nas tintas retrógradas para que a sátira ficasse evidente. Descrevi um quadro que, pensava eu, só poderia ser pintado por um paranoico delirante. No país bisonho do meu texto, José Maria Marin e o pastor Marco Feliciano eram de esquerda, os brancos estavam escanteados por negros, que ocupavam a direção das empresas, as mesas do Fasano e os assentos de primeira classe dos aviões. O Brasil (segundo maior exportador de soja do mundo) não era, na crônica, uma potência agrícola, por culpa das reservas indígenas. No fim, me levantava contra "as bichas" e "o crioléu". O texto não estava suficientemente descolado da realidade para que todos percebessem a impossibilidade de ser literal?

Talvez, infelizmente, não: fui menos grosseiro, violento e delirante na sátira do que muitos têm sido a sério. Poucos dias antes da crônica ser publicada, um vereador afirmou em discurso que os mendigos deveriam virar "ração pra peixe". Com esse pano de fundo, ser "apenas" racista, machista, homo e demofóbico pode não soar absurdo. Quem se chocou achou o personagem equivocado, mas plausível. Quem me cumprimentou achou minha "análise" perfeitamente coerente. Ora, só dá para concordar com o texto se você acreditar que as cotas criaram uma elite negra e oprimiram os brancos, acabando com a "meritocracia que reinava por estes costados desde a chegada de Cabral", se achar que os 20 anos de ditadura foram "20 anos de paz" e que é legítimo e bem-vindo levantar-se contra "as bichas" e "o crioléu".

Em "Hanna e Suas Irmãs", do Woody Allen, Lee, uma das irmãs, é casada com um intelectual rabugento chamado Frederick. Lá pelas tantas, o personagem assiste a um documentário sobre Auschwitz, em que o narrador indaga "como isso foi possível?". Frederick bufa e resmunga: "A pergunta não é essa! Do jeito que as pessoas são, a pergunta é: como não acontece mais vezes?". Esta semana, diante dos e-mails elogiosos que recebi, a fala me voltou algumas vezes à memória: "Como não acontece mais vezes?". Vontade é o que não falta, por aí --e, infelizmente, não estou sendo irônico.

...com um abraço do Tony

Via Rogério Lama

Foto de Rogério Lama





























Caro amigo, minhas saudações!

O acaso ainda não cansou de nos pregar peças e dessa vez foi por pouco que aquele prometido abraço não foi dado! Mas já estou acostumado com esses desencontros, a começar pelos anos em que nascemos: eu em 48 e você em 78. Você teve melhor sorte nascendo no Brasil. Viver em Aston na década de 50 e 60 era um inferno. Éramos escravizados pelas fábricas, as pessoas eram tristes e o lugar também inspirava melancolia. Quando você estranha quando digo que fui influenciado pelos Kinks e pelos Beatles, pense que meu som é a mistura desses caras com a angústia de viver num lugar tão miserável.

Mas tão logo eu comecei a tocar em bandas de colégio, fiz uma promessa de fazer um show pra você e pros seus amigos. Quando assinamos nosso primeiro contrato com a gravadora, vi que estávamos no caminho certo pra isso. Só faltava você nascer e crescer um pouco. Foram bons aqueles anos.

Em 1978, quando você nasceu, lançamos o último disco com aquela formação bacana, e em 79, quando você tinha apenas 1 ano, estávamos desgastados por excesso de trabalho, bebidas e... você sabe. Eu bem que tentei manter a banda unida, mas não havia ambiente. Pra piorar estávamos falidos. Éramos só garotos e não faltaram empresários que nos passassem a perna. Mesmo destroçado e na estaca zero não desisti da minha promessa. Nos anos que se seguiram me reuni com Dio, Ian Gillian, Ray Gillen, Tony Martin, Glen Hughes e mais um monte de gente pra manter vivo o Black Sabbath. Dessas tentativas saíram vários discos, alguns um pouco confusos e que nem eu consigo explicar muito bem. Você sempre diz que gosta deles, mas sei que diz isso por que somos amigos.

Passada essa fase difícil, em 1992 tivemos nossa primeira chance de sentarmos num bar pra tomar uma cerveja e por o assunto em dia: Dio e Geezer voltaram pra banda e agendamos 3 shows em São Paulo! Mas para o nosso azar, os concertos ocorreram no mesmo ano em que você se mudou com a família para uma cidade no nordeste aí do Brasil. Em 1994 voltamos à tocar em São Paulo, mas você só tinha 15 anos, e eu entendi que era difícil e caro fazer essa viagem daí da sua nova cidade.

Em 2009 passamos perto de novo! Reuni aquela formação de 1992 com Dio, Geezer e Vinnie, mas você já tinha juntado suas economias pra assistir o Iron Maiden numa cidade perto da sua. Ainda não era pra ser. A banda do Steve sempre foi muito profissional e o show deles foi agendado bem antes que o nosso. Foi uma pena não ter você por lá. Era a última turnê do Dio, que ainda não sabia que estava doente...

Em 2011 retomei a conversa com meus camaradas de Aston. Nós 4 ainda sonhávamos tocar juntos de novo e era um concerto desses que eu queria apresentar pra você, amigo! Infelizmente Bill destoou um pouco nos acordos e resolveu que não nos acompanharia. Seguimos então Geezer, Ozzy e eu para a gravação de um novo disco. Só que numa consulta de rotina, meu médico me diagnosticou com um câncer. Essa me acertou em cheio, camarada, e passei algumas semanas só pensando bobagens. Passado o susto, comecei o tratamento. Não poderia desistir nesse ponto! Obrigado pelas boas energias emanadas!

No meio desse turbilhão, gestamos o “13”, o primeiro álbum com Geezer e Ozzy desde aquele lançado no ano que você nasceu. Soube que você gostou do disco, fiquei orgulhoso! Também achamos que criamos uma obra e tanto. Nesse período, nosso empresário nos trouxe uma lista prévia de onde a turnê passaria. Procurei o Brasil na lista e fiquei feliz de ver 3 datas por aí! Só nos restava esperar!

Foto - Rogério Lama
Outubro chegou e algo me dizia que você estaria no Rio de Janeiro. No hotel, ali em Ipanema, tive a ideia de chamar o pessoal da produção pra dar uma volta no calçadão e ver se te encontrava! Dessa vez não daria pra tomar uma cerveja, esse tratamento me deixa meio enjoado. Saímos em direção ao Arpoador e logo apareceu um monte de gente com câmera na mão. Te procurei ali, mas não encontrei. Era você por trás de uma daquelas câmeras? Por que não me chamou? Bom, com o começo de confusão, o chato do segurança achou melhor voltarmos pro hotel.

Dia 13/10/2013. Fiz questão de convidar uma banda que você gosta pra abrir o nosso show. O Dave Mustaine continua ótimo, não? Às 20:06hs entramos e não demorei ver você ali perto do palco com expressão de bobo e de olhos inchados. Também me emocionei. Esperei até mais do que você por aquele encontro. Percebeu que selecionei suas músicas favoritas? Tocamos Into the Void, Fairies Wear Boots, Dirty Woman. Estava tudo lá. Ainda te joguei umas palhetas, mas você com cara de tonto não pegou nenhuma. Foram quase duas horas de música. Encontro realizado e assunto em dia, era hora de partir. Já não sou nenhum garoto e rotina de shows cansa. Vi lá de cima que você ficou feliz. Acenei, você retribuiu. Muito legal, valeu esperar!

Foi bom ver você, amigo. Lembranças à sua família e amigos.

Com um forte abraço do 


Tony Iommi.

Acho/Agora - com Vânia Abreu


Acho/Agora (Carlos Careca)

Acho que fiz meia música pra você
Aceita minha meia música
Desculpa o meu vexame
De fazer meia música pra você

Acho que quero ser meio de você
Metade da metade
Da super felicidade
Do meio que provoca o teu prazer...

Agora quero te fazer uma música inteira
Agora não quero mais aquela música ligeira
Agora ser mais feliz
Agora está por um triz

Agora estou te amando tronco e membros
Agora estou sentindo mais do que dizendo
Agora estou mais do céu
Agora quero ser teu

Saber do amor, saber, sabor, sabendo
Provar do teu gosto de estar vivendo
Perder pra te ganhar
Ouvir sem escutar

Agora a amizade é mais que love
Agora tua pessoa ficou mais nobre
Agora ficar aqui
Agora já, now, feliz

Um som que move
Outro comove
Agora acho que fiz uma música e meia
Pra você

Acho - Carlos Careqa


Acho (Carlos Careqa)

Acho que fiz meia música pra você
Aceita minha meia música
Desculpa o meu vexame
De fazer meia música pra você

Acho que fiz meio amor com você
Aceita meu amor ao meio
Meu sonho de sedutor
De fazer meio amor com você

Acho que quero ser meio de você
Metade da metade
Da super felicidade
Do meio que provoca o teu prazer

Acho que meio amigo seu eu vou ser
Aceita meia amizade
O resto é banalidade
Meio amigos é o que podemos ter

Müsica, amor
Música, amor
Amizade, felicidade
Amizade, felicidade
Prazer em conhecer
Prazer em conhecer
Música

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Lauro Maia - 100 anos

Por Marcus Vinicius
Via Calé Alencar

Andrés González Bravo, aliás Willy Sabor, é humorista, locutor de rádio e cantor chileno. Nasceu em Santiago do Chile em 15 de setembro de 1969. A música "Y yo vi um leon" é uma versão de Eu vi um leão de Lauro Maia.




Eu Vi Um Leão
(Lauro Maia)

Hoje, eu vi um leão
Leão, leão
E não era um leão
Não era um leão

E o que era então?

Não digo, não!
Não digo, não!
Não digo, não!

Que bicho, que bicho
Que bicho era então?

Tinha corpo de leão,
Tinha cara,
Cara de leão,
Tinha boca,
Boca de leão,
Tinha dente,
Dente de leão,
Tinha pata,
Pata de leão,
Tinha unha,
Unha de leão,
Tinha cheiro,
Cheiro de leão,
Tinha ronco,
Ronco de leão.

Então era um leão
Não era, não!

E o que era então?
Não digo, não!

Diga! Diga! Diga!...

Tinha corpo de leão...

Pois era a mulher do leão!
Ah! Era a mulher do leão!
Eh! Eh!
Era a mulher do leão!

O baile "Betinha" com Erasto Vasconcelos

Via Roberto Félix

"Chegou quem faltava" com Dona Ivone Lara, com participação de Seu Alcides Malandro Histórico"



Chegou quem faltava (Nilson Gonçalves)

Já chegou quem faltava
Quem o povo esperava chegar

Viemos apresentar o que a Portela tem
Muito samba bonito, baiana com ritmo
Harmonia também

Hoje essa Portela que vocês ouvem falar
O mundo inteiro soube consagrar
Mesmo derrotados cantaremos com alegria
Essa nossa doce melodia