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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Peggy Lee - Fever



"Peggy Lee gravou "Fever na Capitol em 1958, em arranjo de Jack Marshall com acompanhamento de estalos de dedos, de tambores e o famoso Joe Mondragon ao contrabaixo. Essa concepção de acompanhamento extraordinariamente singelo, aliado à interpretação sensual  de Peggy Lee, foi precisamente o que provocou uma incrível tensão de fundo erótico, sem que se pudesse coibir o que estava nas entrelinhas da letra.
 Basta um trecho como este: "Now give me fever/ When we're kissin'/ Fever with that blame in you/ Fever, I'm a fire/ Fever, yeah, I burn for you" ["Dê-me fever quando nos beijamos/ fever com seu calor/fever, sou uma labareda/fever, sis, eu queimo por você"]
in Música com Z, de Zuza Homem de Mello - Editora 34

Alberta Hunter



The great Alberta Hunter, who had a comeback at age 83, singing "Nobody Knows You When You're Down and Out," written originally by Jimmie Cox for Bessie Smith. Alberta had written one of Bessie's great blues songs, "Downhearted Blues."

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O BERÇO DA BOSSA NOVA

Por Flávia Ribeiro

Fotos Eduardo Zappia






Nos fim dos anos 1950 e ao longo dos 1960, quatro bares localizados em uma travessa sem saída na Rua Duvivier, em Copacabana, concentravam shows da nata da então incipiente bossa nova. No Ma Griffe, Little Club, Bacará e Bottle’s Bar apresentaram-se Elis Regina, Nara Leão, Baden Powell, Sérgio Mendes, Leny Andrade e muitos outros. Na época, o lugar era chamado de Beco das Garrafas, pois moradores dos prédios vizinhos lançavam das ditas cujas para acabar com o burburinho provocado pelos assíduos frequentadores. Abandonado por décadas, o local está de volta, depois de um projeto de revitalização capitaneado pela cantora e produtora Amanda Bravo e com investimentos da Heineken.

Filha do músico Durval Ferreira, coautor de clássicos da bossa nova como Estamos Aí e Tristeza de Nós Dois, Amanda decidiu realizar o sonho do pai, morto em 2007, e pôs de pé os planos de transformar o Beco das Garrafas novamente em um lugar relevante para a cena musical carioca. “Aquele foi um ambiente fértil, que ajudou a revolucionar a MPB. Meu pai e um sócio, Sérgio De Martino, tentaram revivê-lo no fim da década de 80, mas a ideia não foi para a frente. Há pouco mais de um ano, liguei para o Sérgio. Transformamos o Bottle’s e o Bacará em um só espaço e abrimos no último réveillon”, conta ela.




Por uma feliz coincidência, a Heineken havia incluído o Rio de Janeiro em sua campanha global, Cities of the World, com lançamento de garrafas comemorativas e investimento em locais icônicos de seis cidades: além da capital fluminense, Nova York, Xangai, Berlim, Amsterdã e Londres. E o Beco das Garrafas foi o grande escolhido na Cidade Maravilhosa para ser o centro do projeto e passou por uma ampla reforma.




“Queremos resgatar a história da bossa nova e o frescor que a musicalidade brasileira possui. Para isso, nada melhor do que o ponto que foi o berço desse estilo musical”, explica Bernardo Spielmann, diretor de marketing da marca e de patrocínios da cervejaria no Brasil. “O Bottle’s Bar, com o Bacará incorporado a ele, e o Little Club passaram por uma reestruturação completa, preservando o formato original. Foram feitas diversas reformas em alvenaria, aprimoramentos no design e na decoração, sempre respeitando sua rica história.”





A reinauguração foi realizada em setembro, com um show em homenagem a Elis Regina. Desde então, há apresentações de terça a sábado, sempre das 18h às 2h. Já passaram por lá, nessa nova fase, nomes como Victor Biglione, Chico Batera, Carol Saboya, Ricardo Silveira e Patrícia Marx, além de novos talentos, como Júlia Vargas e Suricato. Duas vezes por mês, aos sábados, há ainda o Clubinho, às 16h, com espaço para bandas formadas por crianças e cantores mirins. No cardápio, petiscos como aipim frito, pastéis, casquinha de siri, sanduíches e batata frita. Para beber, cerveja, chope e drinks.





“O lugar é tipicamente carioca, no coração de Copacabana. É despojado, pois qualquer um pode frequentá-lo de bermuda e havaianas”, comenta Amanda, garantindo que nenhum vizinho jogou garrafas desde sua reabertura.

Beco das Garrafas, R. Duvivier, 37, Copacabana, Rio de Janeiro. Couvert artístico entre R$30 e R$50. T 21 2543 2962

http://www.azulmagazine.com.br/v1/?p=8678/bottlesbar.com.br

QUANDO A IDADE É UM MERO DETALHE

Por André Barcinski



Um artista pode ser mais produtivo aos 80 anos do que aos 30? O cantor e compositor canadense Leonard Cohen, recentemente octogenário, prova que sim.

Cohen acaba de lançar Popular Problems, seu segundo álbum em dois anos (o terceiro, se contarmos o ao vivo Live in London), e tem feito as turnês mais longas e de maior sucesso da carreira. Conhecido como um perfeccionista, que leva muito tempo para terminar uma música e chega a passar cinco ou até nove anos entre discos, ele está em sua fase mais produtiva.

E pensar que tudo isso aconteceu por necessidade financeira. Em 2004, se aposentou da música para passar o resto de seus dias num monastério budista na Califórnia, quando descobriu que sua agente havia surrupiado todo seu dinheiro. A solução foi voltar à estrada.

Em 2008, Cohen anunciou sua primeira turnê em 15 anos. E uma coisa misteriosa e inexplicável ocorreu: seu público se multiplicou. De repente, ele não estava mais tocando em pequenos teatros, mas em ginásios lotados com 10 ou 15 mil pessoas. Durante sua ausência, novas gerações passaram a conhecer e amar sua música.

A turnê foi um sucesso estrondoso e rendeu o CD e DVD Live in London. E o compositor não saiu mais da estrada. Em 2012, lançou Old Ideas, seu primeiro disco de estúdio em oito anos. Suas turnês ficavam mais longas e os shows, cada vez mais extensos e emocionantes.

Tive a sorte de ver uma de suas apresentações, no Palacio de Deportes, em Madri. Mais de 14 mil pessoas lotavam o lugar. Cohen e banda tocaram por exatas quatro horas, com um intervalo de 15 minutos no meio para todos recobrarem as forças. Um tour de force comovente, em que artista e público mostraram um afeto mútuo que nunca vi em nenhum outro show.

Até o fim de 2014, ele promete divulgar datas de sua próxima turnê mundial. Vamos torcer para que finalmente inclua o Brasil.

http://www.azulmagazine.com.br/v1/?p=8598

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

‘Volte Sempre': atender com discrição e bom humor é o segredo da garçonete do Boteco do Arlindo

Via Mateus Perdigão

Por Wolney Batista

Atender bem é uma vocação e isso a garçonete Leidiane Sousa Alves aprendeu cedo.



A funcionária do Boteco do Arlindo uniu a simpatia com virtudes que desenvolveu enquanto trabalhava com o pai, em um bar próximo à Praça 31 de Março. “Leidi”, como é conhecida pelos frequentadores mais assíduos, é a personagem da segunda reportagem da série “Volte Sempre“.

Um famoso clichê repassado entre comerciantes há muitas décadas garante: cliente tem sempre razão. Certa ou errada, a frase faz parte da “Bíblia” da jovem garçonete. “Quando o cliente diz que a cerveja está muito quente, eu digo para ele que vou procurar uma mais gelada, mesmo que não tenha nenhuma mais gelada”, brinca com o exemplo.

O bom humor é uma das marcas registradas da moça, que está sempre de batom vermelho e coque no cabelo. “Tem um casal que sempre vem na sexta-feira. Quando eu passei dois meses de folga eles ligavam perguntando como eu estava”, relembra a época da reforma do boteco.

Mais velha de quatro irmãos, a jovem de 19 anos divide com a mãe a responsabilidade da renda da casa. “Ou estudava ou trabalhava, mas como eu preciso trabalhar, parei de estudar”. Mesmo com pouca idade, sem o ensino médio completo ou cursos profissionalizantes na área, a jovem conhece os quesitos de um bom garçom.

Segundo ela, a discrição é uma das qualidades mais importantes da profissão. “Nós temos que ficar perto deles [clientes] para caso eles peçam alguma coisa. Mas sem prestar atenção nas conversas”. Outro item fundamental é a empatia. “Para uma pessoa trabalhar em um bar tem que ter muita simpatia e paciência”, completa.

Leidiane
Onde encontrá-la? Boteco do Arlindo (Rua Carlos Gomes, 83 – José Bonifácio)
Quando? De terça-feira a domingo
Que horas? terça a sábado, a partir das 17h; domingo, a partir das 11h

http://tribunadoceara.uol.com.br/diversao/check-in/volte-sempre-atender-com-discricao-e-bom-humor-e-o-segredo-da-garconete-do-boteco-do-arlindo/

Eu não sou Louco (Lupicínio Rodrigues)

Samba de Carnaval de Lupicínio Rodrigues, com Isaurinha Garcia.



Eu não sou Louco (Lupicínio Rodrigues)

Eles me chamam de louco,
Porque eu bebo senhor,
Depois que bebo, saio na rua,
Brigando com meu amor.

Louco não senhor,
Eu não sou louco,
Pois um coração magoado,
Não fala baixo, nem bebe pouco,
Louco não senhor,
Eu não sou louco.

Se eles soubessem a minha situação,
O quanto me custa aturar o meu coração,
Iriam compreender, que eu não sou louco,
Pois um coração magoado,
Não fala baixo, nem bebe pouco....
(bis)

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Damas do Samba Paulista

Damas do samba Paulista - Fabiana Cozza, Adriana Moreira, Tereza Gama.


Adriana Moreira


Ceará (Gabriel Setúbal e Diego Casas) com Pitanga em pé de amora

PITANGA EM PÉ DE AMORA - O grupo é formado por Angelo Ursini na flauta, clarinete, sax e voz; Daniel Altman no violão 7 cordas, guitarra e voz; Diego Casas no violão e voz; Flora Popovic na voz e percussão e Gabriel Setubal na guitarra, trompete, violão e voz.



Ceará (Gabriel Setúbal e Diego Casas)

Eu parto desse chão
Que é parte do que eu fui
E é parte do que eu sou

É que a partir daqui a vida vai ter que melhorar
Eu vou voltar lá pro sertão do Ceará
Com historia pra contar
De amor, de dor
E de obstinação

Eu parto desse chão
No peito um apertão de alegria
Eu penso que a vida é pra se viver com paixão
E a paixão que eu conheço é o Ceará
Minha terra, meu lugar
E a porção maior do que me faz feliz

Juçara Marçal

Por Marcus Vinicius

Melhor disco de 2014 - via APCA.

Encarnado de Juçara Marçal.

A Dora Moreira e Darwin Marinho.

Dia do Samba

Cartazes by Evelyn Ferreira

Samba da Benção

Via Chico Nery



Samba da Benção (Baden e Vinicius)

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração

Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não

Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão

Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração

Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não

Feito essa gente que anda por aí
Brincando com a vida
Cuidado, companheiro!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom
Ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu
E assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão
Ponha um pouco de amor na sua vida
Como no seu samba

Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não

Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

Eu, por exemplo, o capitão do mato
Vinicius de Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil
Na linha direta de Xangô, saravá!
A bênção, Senhora
A maior ialorixá da Bahia
Terra de Caymmi e João Gilberto
A bênção, Pixinguinha
Tu que choraste na flauta
Todas as minhas mágoas de amor
A bênção, Sinhô, a benção, Cartola
A bênção, Ismael Silva
Sua bênção, Heitor dos Prazeres
A bênção, Nelson Cavaquinho
A bênção, Geraldo Pereira
A bênção, meu bom Cyro Monteiro
Você, sobrinho de Nonô
A bênção, Noel, sua bênção, Ary
A bênção, todos os grandes
Sambistas do Brasil
Branco, preto, mulato
Lindo como a pele macia de Oxum
A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim
Parceiro e amigo querido
Que já viajaste tantas canções comigo
E ainda há tantas por viajar
A bênção, Carlinhos Lyra
Parceiro cem por cento
Você que une a ação ao sentimento
E ao pensamento
A bênção, a bênção, Baden Powell
Amigo novo, parceiro novo
Que fizeste este samba comigo
A bênção, amigo
A bênção, maestro Moacir Santos
Não és um só, és tantos como
O meu Brasil de todos os santos
Inclusive meu São Sebastião
Saravá! A bênção, que eu vou partir
Eu vou ter que dizer adeus

Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não

Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A verdade acima dos Partidos

via Bruno Perdigão

NUNCA SE ROUBOU TÃO POUCO

Por Ricardo Semler

Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito.

Não há no mundo dos negócios quem não saiba disso. Nem qualquer um dos 86 mil honrados funcionários que nada ganham com a bandalheira da cúpula.

Os porcentuais caíram, foi só isso que mudou. Até em Paris sabia-se dos “cochons des dix pour cent”, os porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas passadas.

Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão –cem vezes mais do que o caso Petrobras– pelos empresários?

Virou moda fugir disso tudo para Miami, mas é justamente a turma de Miami que compra lá com dinheiro sonegado daqui. Que fingimento é esse?

Vejo as pessoas vociferarem contra os nordestinos que garantiram a vitória da presidente Dilma Rousseff. Garantir renda para quem sempre foi preterido no desenvolvimento deveria ser motivo de princípio e de orgulho para um bom brasileiro. Tanto faz o partido.

Não sendo petista, e sim tucano, com ficha orgulhosamente assinada por Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e FHC, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país.

É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido com qualquer presidente. Com bandalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia Federal teria tido autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao próprio governo.

Votei pelo fim de um longo ciclo do PT, porque Dilma e o partido dela enfiaram os pés pelas mãos em termos de postura, aceite do sistema corrupto e políticas econômicas.

Mas Dilma agora lidera a todos nós, e preside o país num momento de muito orgulho e esperança. Deixemos de ser hipócritas e reconheçamos que estamos a andar à frente, e velozmente, neste quesito.

A coisa não para na Petrobras. Há dezenas de outras estatais com esqueletos parecidos no armário. É raro ganhar uma concessão ou construir uma estrada sem os tentáculos sórdidos das empresas bandidas.

O que muitos não sabem é que é igualmente difícil vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar propina para o diretor de compras.

É lógico que a defesa desses executivos presos vão entrar novamente com habeas corpus, vários deles serão soltos, mas o susto e o passo à frente está dado. Daqui não se volta atrás como país.

A turma global que monitora a corrupção estima que 0,8% do PIB brasileiro é roubado. Esse número já foi de 3,1%, e estimam ter sido na casa de 5% há poucas décadas. O roubo está caindo, mas como a represa da Cantareira, em São Paulo, está a desnudar o volume barrento.

Boa parte sempre foi gasta com os partidos que se alugam por dinheiro vivo, e votos que são comprados no Congresso há décadas. E são os grandes partidos que os brasileiros reconduzem desde sempre.

Cada um de nós tem um dedão na lama. Afinal, quem de nós não aceitou um pagamento sem recibo para médico, deu uma cervejinha para um guarda ou passou escritura de casa por um valor menor?

Deixemos de cinismo. O antídoto contra esse veneno sistêmico é homeopático. Deixemos instalar o processo de cura, que é do país, e não de um partido.

O lodo desse veneno pode ser diluído, sim, com muita determinação e serenidade, e sem arroubos de vergonha ou repugnância cínicas. Não sejamos o volume morto, não permitamos que o barro triunfe novamente. Ninguém precisa ser alertado, cada de nós sabe o que precisa fazer em vez de resmungar.


http://blogdojuca.uol.com.br/2014/11/a-verdade-acima-dos-partidos/

O refúgio de Donnafugata

por Walter Maierovitch

Homem solitário e leitor compulsivo, Giuseppe Tomasi di Lampedusa morreu em 1957 com a certeza da não publicação do seu único e histórico romance, Il Gattopardo, lançado no Brasil com o título O Leopardo. Refutado por editora do porte de uma Mondadori-Einaudi depois de parecer contrário escrito com dor de cotovelo por Elio Vittorini, a obra foi publicada um ano depois da morte de Lampedusa pela Feltrinelli, com prefácio de Giorgio Bassani (autor do romance O Jardim dos Finzi-Contini).



Sucesso póstumo, Il Gattopardo tornou-se o maior best seller na história da literatura italiana. No cinema, a adaptação de Luchino Visconti com as interpretações magistrais de Claudia Cardinale e Burt Lancaster, bateu recordes de bilheteria. Pois bem, quando o autor desta coluna é tomado por desilusões e tristezas, refugia-se na sua imaginária e lampedusiana villa de Donnafugata e busca conforto na leitura de uma página de O Leopardo: “Nós fomos os leopardos, os leões. Quem nos substituirá serão os chacaizinhos, as hienas. E todos, leopardos, chacais e ovelhas, continuaremos a nos acreditar como o sal da terra”.

Na minha última estada em Donnafugata, estive na companhia da iraniana Reyhaneh Jabbari. Reyhaneh, 26 anos, decoradora de interiores, foi presa em 2007 por esfaquear o conacional Morteza Abdolali Sarbandi. Acusada de homicídio premeditado, permaneceu presa de 2007 a 25 de outubro de 2014, quando foi executada a pena capital imposta por cinco juízes de um tribunal penal e confirmada pela Corte Suprema do Estado teocrático iraniano.

No processo, a ré Reyhaneh sustentou haver atuado em legítima defesa para escapar de um estupro, no escritório de Sarbandi, que conhecera em um café e que a convidara para conversar a respeito de um projeto de decoração.

Depois de cominada a pena capital pela Justiça iraniana, resta a qualquer condenado, pela regras da teocracia xiita, recorrer à clemência da família da vítima. No caso de Reyhaneh, a família de Sarbandi condicionou o perdão à retratação da afirmada ocorrência de violência sexual. A família de Sarbandi insistia na premeditação sob argumento de a faca, instrumento do crime, ter sido comprada três dias antes do homicídio e numa interceptada mensagem via SMS enviada a um amigo, na qual a condenada dizia: “Penso que o matarei hoje”.

Reyhaneh continuou a sustentar a tentativa de estupro. Dada a recusa a um perdão condicionado à retratação, a execução da pena capital, chamada de homicídio legal por doutrinadores do direito penal, consumou-se no subterrâneo da prisão de Gohardasht, ao norte da cidade de Karaj. Os apelos da Comunidade Europeia, das Nações Unidas e da Anistia Internacional de nada valeram, como já se pressentia.

No sábado 8 de novembro, o jornalista Massimo Gramellini, vice-diretor do diário La Stampa, de Turim, observou, em um programa de televisão de larga audiência, que seria cômodo para Reyhaneh aceitar retratar-se para manter-se viva e livre. Sua consciência falou mais alto. Reyhaneh é um desses casos raros em que o ser humano é o “sal da terra”.

O chefe do Ministério Público iraniano, em nota, procurou, sem sucesso no exterior, contornar o impacto negativo da condenação ao evocar fatos processuais. Por exemplo, Reyhaneh, em um interrogatório inicial, sustentou que uma terceira pessoa estava presente e foi o homicida. Na nota, afirma-se que a faca ensanguentada e a bainha foram apreendidas na residência da ré. Em contrapartida, omite-se ter Reyhaneh ficado, antes do interrogatório, em isolamento celular por dois meses, sem possibilidade de contatar o advogado de defesa Mohammad Mostafaei, fato confirmado por este em seu blog.

Não bastasse, a Justiça da teocracia iraniana condenou à pena de um ano de prisão, a ser cumprida integralmente em regime fechado, a ativista Ghoncheh Ghavami, de 25 anos. A condenação deveu-se à violação de norma de proibição ao tentar assistir, em junho passado, a um jogo de vôlei masculino entre as seleções do Irã e da Itália. Ghavami luta pelo reconhecimento da igualdade de direitos entre homens e mulheres e está recolhida no nada recomendável cárcere de Evin, na periferia de Teerã.

No mundo sunita, mais especificamente na Arábia Saudita, a advogada e ativista Souad al-Shammary tenta se livrar da acusação de insulto ao Islã e invoca o direito natural à liberdade de expressão. Culpada por ter criticado quem usa barba e os vaidosos que se julgam ungidos pelos céus e têm a mão beijada pelos semelhantes. Ou pelas ovelhas?

http://www.cartacapital.com.br/revista/826/o-refugio-de-donnafugata-115.html

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Tambor de Crioula

Leilão - Hekel Tavares e Joracy Camargo

Tem brancos no dia da Consciência Negra.



Leilão (Hekel Tavares e Joracy Camargo)

De manhã cedo, num lugar todo enfeitado,
nóis ficava amuntuado prá esperá os compradô
depois passava pela frente do palanque,
afincado ao pé do tanque, que chamava bebedô.

E nesse dia minha véia foi comprada
numa leva separada, de um sinhô mocinho ainda
minha véinha era a frô dos cativêro
foi inté mãe do terreiro da famia dos Cabinda.

No mesmo dia em que levaram minha preta
me botaram nas grieta, qui é prá mó d´eu não fugi
e desde então o preto veio aperreô.
ficou véio como tô
Mas como é grande este Brasil.

E quando veio de Isabé as alforria
percurei mais quinze dia,
mas a vista me fartô!
só peço agora, que me leve siá Isabé
quero ver se tá no céu
minha véia, meu amô!!

CARMEM COSTA


TIA MARIA da Serrinha


ANGELA DAVIS


Woman is the nigger of the world - Lennon e Yoko


Woman Is The Nigger Of The World (Lennone Yoko)

Woman is the nigger of the world
Yes she is
Think about it
Woman is the nigger of the world
Think about it
Do something about it

We make her paint her face and dance
If she won't be a slave, we say that she don't love us
If she's real, we say she's trying to be a man
While putting her down we pretend that she's above us
Woman is the nigger of the world
Yes she is
If you don't believe me
Take a look at the one you're with
Woman is the slave of the slaves
Oh yeah, better scream about it

We make her bear and raise our children
And then we leave her flat for being a fat old mother hen
We tell her home is the only place she should be
Then we complain that she's too unworldly to be our friend

Woman is the nigger of the world
Yes she is
If you don't believe me, take a look at the one you're with
Woman is the slave to the slaves
Yeah, alright

We insult her every day on TV
And wonder why she has no guts or confidence
When she's young we kill her will to be free
While telling her not to be so smart we put her down for being
so dumb

Woman is the nigger of the world
Yes she is
If you don't believe me, take a look at the one you're with
Woman is the slave to the slaves
Yes she is
If you don't believe me, you better scream about it

We make her paint her face and dance (x7)

SACI - Guinga e PC Pinheiro

Via Rogério Ribeiro



Saci (Guinga e PC Pinheiro)

Quem vem vindo ali
É um preto retinto e anda nu
Boné cobrindo o pixaim
E pitando um cachimbo de bambu

Vem me acudir
Acho que ouvi seu assovio
Fiquei até com cabelo em pé
Me deu arrepio, frio

Quem vem vindo ali
Tá capengando numa perna só
Só pode ser coisa ruim
Como bem já dizia minha vó

Diz que ele vem
Montado num roda-moinho
Já sei quem é, já vi seu boné
Surgir no caminho

Quando ele vê que eu me benzi
E que eu me arredo, cruz credo
Solta uma gargalhada
Some na estrada
É o Saci

Nação Zumbi - Da Lama ao Caos

Modernizar o passado
É uma evolução musical
Cadê as notas que estavam aqui
Não preciso delas!
Basta deixar tudo soando bem aos ouvidos
O medo dá origem ao mal
O homem coletivo sente a necessidade de lutar
o orgulho, a arrogância, a glória
Enche a imaginação de domínio
São demônios, os que destroem o poder bravio da humanidade
Viva Zapata!
Viva Sandino!
Viva Zumbi!
Antônio Conselheiro!
Todos os panteras negras
Lampião, sua imagem e semelhança
Eu tenho certeza, eles também cantaram um dia...





ZUMBI DOS PALMARES

Via Lourdes Góes

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Regulação da Mídia - Parte um

Por Opera Mundi



http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/34820/Aula+publica++no+brasil+tentam+demonizar+regulamentacao+da+midia+diz+franklin+martins.shtml

terça-feira, 18 de novembro de 2014

O voto no Brasil - Um nobre dever

    Fábio Kerche e João Feres Júnior

  • Nos dias de hoje, os diagnósticos sobre as mazelas de nosso país acabam sempre com a mesma prescrição: reforma política. Dos conservadores aos progressistas, parece haver uma quase unanimidade sobre a necessidade de mudanças no sistema. Mas o consenso termina aí. Quando se faz a pergunta seguinte, e necessária, acerca de qual reforma estamos falando, a coisa complica. O leque de sugestões é amplo: voto proporcional com lista fechada (o eleitor vota no partido e não em um candidato), voto majoritário para deputados, também conhecido como distrital (o país é dividido em distritos geográficos e cada distrito elege somente um candidato), financiamento público de campanha, parlamentarismo, revisão da legislação sobre criação de partidos etc. Muitas vezes as propostas escolhidas por analistas e políticos são contraditórias. Enquanto reclamam do excesso de partidos, são contra a cláusula de barreira, instrumento que não permitiria que partidos com poucos votos tivessem representação no Poder Legislativo. Criticam a falta de representatividade do Congresso ao mesmo tempo em que defendem sistemas eleitorais que praticamente excluem a representação de minorias.
     
    Nessa babel da reforma política, o fim da obrigatoriedade do voto, que segundo pesquisa de opinião recente conta com o apoio de 61% dos cidadãos, é um dos pontos sempre lembrados e debatidos. A proposta é apresentada, geralmente, como necessária para aumentar a qualidade de nossos políticos, embora não haja qualquer estudo que sustente este raciocínio. A argumentação é simplista: o eleitor que é obrigado a votar faz sua escolha sem real motivação, assim abre brecha para o aparecimento de supostas aberrações. Ou seja, se votassem somente os interessados na política, os bem informados, os mais estudados ou, talvez, os mais ricos, teríamos uma classe política de melhor nível.
     
    O voto compulsório, contudo, não é novidade e nem uma exclusividade brasileira. Há registros de que a Grécia antiga já determinava que o cidadão deveria necessariamente se manifestar “com o fito de prevenir os perigos da inação e indiferença”. Austrália, Bélgica, Argentina e Uruguai são exemplos de democracias contemporâneas que adotam o voto compulsório. No Brasil, desde 1932 há obrigatoriedade de inscrição dos eleitores e do voto.
     
    Acervo Fundação Biblioteca Nacional
    Acervo Fundação Biblioteca Nacional
    A exigência não é do voto em si, mas da mobilização em torno do processo eleitoral a cada dois anos. O eleitor não é obrigado a escolher um candidato: ele tem a opção de anular ou votar em branco. O cidadão que está fora de seu domicílio eleitoral, por sua vez, pode justificar sua ausência por meio de um simples formulário. Não podendo justificar, resta ainda a alternativa de pagar uma multa irrisória de R$ 3,50, sem contar as frequentes anistias dadas aos faltosos. Com esta série de alternativas pouco custosas do ponto de vista financeiro ou prático para não votar, a obrigação acaba sendo mais simbólica do que real.
    O argumento de que votar é um direito, e não um dever, é simplificador. Por conta das leis do Estado, nossa vida coletiva nos força a várias coisas: registro civil, vacinação, educação fundamental, alistamento militar. Por serem fundamentais à vida em sociedade, são deveres aos quais não podemos fugir. Por que então o voto não pode ser mais um deles?
    Há outras razões fortes para promover a participação da população em eleições. Grande parte dela, particularmente os mais pobres, esteve sempre alijada do processo eleitoral no Brasil, não somente nos períodos ditatoriais, mas também nos democráticos. Na eleição de 1933, por exemplo, apenas 3,3% da população do país votaram. Em 1945, com a volta da democracia, foram parcos 13,4%. Em 1962, na última eleição anterior ao golpe militar, só 20% dos brasileiros foram às urnas. Somente com o fim da proibição do voto do analfabeto as massas foram definitivamente incorporadas ao processo eleitoral. E isso só aconteceu na Nova República, em 1985.
    Hoje temos uma das maiores participações no processo eleitoral do mundo, tendo chegado a 75% de comparecimento nas eleições presidenciais de 2010. Esse alto comparecimento às urnas, além da maciça participação e envolvimento no debate eleitoral no Brasil – muito diferente da apatia que vigora nos Estados Unidos, por exemplo – é importante não somente pelo seu lado simbólico. Há também consequências práticas na opção por um modelo compulsório.
    Em países onde o voto é facultativo, mesmo em democracias maduras como a norte-americana e a francesa, as taxas de abstenção preocupam especialistas, políticos e democratas em geral. Na França, o não voto chega a quase 50% durante as eleições europeias, regionais, “cantonais”, legislativas e municipais. E essa ausência nas urnas não se distribui de maneira igual entre as gerações e as classes sociais francesas. Os mais velhos votam quase duas vezes mais que os jovens. Profissionais que ocupam melhores posições no mercado de trabalho têm maior presença. Isto sugere que algumas camadas da sociedade acabam não participando do processo eleitoral.
    A sub-representação de determinados segmentos da população em um sistema com altas taxas de abstenção pode ser explicada a partir de um axioma: todo político busca permanecer no poder, seja pessoalmente, ou por meio de seu partido. Na democracia, esse esforço passa pelo voto, e para manter-se no cargo, o político deve continuar a ser escolhido pelas urnas. Se os eleitores de um candidato desejam X e ele, ao longo de seu mandato, faz Y, os eleitores tenderão a escolher outra opção que prometa ou que já esteja fazendo X. O efeito colateral positivo desse axioma é uma defesa dos cidadãos em face dos escassos instrumentos de controle sobre os políticos: o político profissional, que vive para a política, como diria o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), não pode perder de vista seus eleitores.
    Para que um político possa continuar exercendo seus mandatos, ele precisa observar os desejos de quem vota. Esta argumentação, bastante óbvia, também vale para cargos no Poder Executivo. Um candidato à Presidência, de direita ou de esquerda, faz promessas e exerce seu mandato com vistas a atender um amplo leque de eleitores. Como todos votam – ricos, pobres, negros, brancos, jovens e idosos – um presidente pode até dar ênfase a alguns segmentos, mas não pode ignorar os outros.
    Mesmo candidatos mais conservadores fazem promessas voltadas para os mais pobres, já que estes são a maioria dos eleitores. Se um segmento da população deixasse de votar, perdendo sua expressividade numérica no processo eleitoral, não seria racional para o político levar em consideração as questões relativas a este grupo. E em países onde o voto não é obrigatório, são os mais pobres que deixam de votar – com exceção da Índia.
    Há evidências empíricas fortes de que o voto obrigatório está correlacionado com uma melhor distribuição de renda, como mostra trabalho feito por Alberto Chong e Maurício Oliveira para o Banco Interamericano. Mantendo esta tendência no Brasil, em caso do fim do voto compulsório, o provável seria que os mais pobres, justamente aqueles que mais precisam ser alcançados pelas políticas públicas, fossem menos considerados em futuros governos.
    Em tempos de “negação da política”, com crescente criminalização dos políticos e de algumas instituições típicas da democracia, a reforma política, vendida como um remédio capaz de curar todos os males, pode soar como música para ouvidos desavisados. Mas nem toda reforma é necessariamente boa ou sem interesses. Diante disto, resta a pergunta óbvia: a quem interessaria o fim do voto obrigatório?

    Fábio Kerche é pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa. João Feres Júnior é professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos e do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro.

    Saiba mais
    NICOLAU, Jairo. História do voto no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
    PORTO, Walter Costa. Dicionário do Voto. Brasi?lia: Editora UnB, 2000.
    ROSE, Richard. International Encyclopedia of Elections. Washington, D.C.: CQ Press, 2000.
    CHONG, Alberto & OLIVEIRA, Maurício. "On Compulsory Voting and Income Inequality in a Cross-Section of Countries".Research Department working paper series, nº 533, p. 26, 2005.


http://www.rhbn.com.br/secao/artigos-revista/especial-o-voto-no-brasil-iguais-perante-a-urna

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Manoel de Barros

O livro sobre nada

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.
Sou muito preparado de conflitos.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção.
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.
Sábio é o que adivinha.
Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.
Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma.
Peixe não tem honras nem horizontes.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma palavra abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Esta tarefa de cessar é que puxa minhas frases para antes de mim.
Ateu é uma pessoa capaz de provar cientificamente que não é nada. Só se compara aos santos. Os santos querem ser os vermes de Deus.
Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.
O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Por pudor sou impuro.
O branco me corrompe.
Não gosto de palavra acostumada.
A minha diferença é sempre menos.
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.
Não preciso do fim para chegar.
Do lugar onde estou já fui embora.  

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

TIM MAIA - o filme

Em cartaz o filme TIM MAIA. 0 mestre da música negra brasileira. Bem produzido, com direção de Mauro Lima, estrelado por Babu Santana, Robson Nunes, Aline Moraes e Cauã Reymond.

O trailer.


Duas múisicas:

Lábios de Mel:



Além do Horizonte



terça-feira, 28 de outubro de 2014

Bons dias, brasileiros

Por Iana Soares

Nesta segunda-feira amanhecemos sem presidente. Ontem tivemos um dia frenético, como bem sabem. Tomamos café da manhã com mil adesivos na camiseta, almoçamos segurando garfo, faca e bandeira. Votamos. Gritamos entre vermelhos e azuis, postamos nas redes sociais e tentamos, até o último minuto, convencer vizinhos e parentes distantes a votarem no nosso candidato. Tudo em vão. Quem imaginaria esse desfecho? Um país com mais de 200 milhões de habitantes subitamente sem presidente.

Não houve qualquer explicação. Os candidatos sumiram e deixaram para nós uma missão intitulada “futuro do País”, pregada na testa de cada brasileiro que, assustado, correu para lavar o rosto logo cedo, incrédulo e inseguro. Não desgruda, pois é feita com material eterno e dura mais do que batom 24 horas. Alguns souberam da notícia pela televisão ou ao ler este breve artigo. O que importa é que já não se sustentam os insultos proferidos e o ódio destilado para defender e acusar um ou outro. Os que se abstiveram e por um segundo pensaram na frase “eu não gosto de política” já não podem brincar de Pôncio Pilatos.

Agora, com um destino tão certeiro, cada ex-eleitor compreenderá que é parte de um tecido social e que suas ações individuais impactam de forma certeira na vida coletiva. Estranho escrever o óbvio. Os formadores de opinião de última hora perceberão que não era só coisa de Facebook ou clima de clássico-rei, mas que os milagres imaginados poderão ser colocados em prática. Ou não, pois haverão embates. A democracia é território de conflito.

Como já havia antecipado, escrevo de Barcelona, na Espanha. Com um fuso horário de 4 horas, fui dormir sem presidente. Em espanhol, a forma de saudar as pessoas logo cedo é com um “buenos días”. Não se deseja apenas um único e solitário bom dia, tão caducável. Através da expressão, o interlocutor nos presenteia com um desejo plural. É como ganhar um buquê de flores coloridas que não murcham.

Que venham dias com mais bicicletas e menos carros importados. Mais reforma agrária e menos latifúndio. Mais terras indígenas homologadas e nenhum trabalho escravo. Mais árvores e ninguém apavorado. Mais solidariedade e amor ao próximo nos bons dias que virão.

DILMA ROUSSEFF - CORAÇÃO VALENTE - Parte 2

Por Marcus Vinicius


terça-feira, 21 de outubro de 2014

A História de Lily Braun

Via Aldir Brasil



Artistas: Grupo PianOrquestra e Teresa Cristina
Música: A História de Lily Braun (Chico Buarque e Edu Lobo)

Aqui o DVD - http://claudiodauelsberg.com.br/loja/

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Carioca 1954 - Nina Becker

Por Marcus Vinicius

Para Vólia Barreira, Mateus Perdigão, Bruno Perdigão, Rogério Ribeiro, Roberto Bezerra Leite e Eva Caldas. E a todos(as) curtem o Rio de Janeiro e a noite...

Belo CD - Duo de Lívia Nestrovsky e Fred Ferreira

Por Marcus Vinicius

Em casa e no carro - ouvindo direto.Muito bom.


Eu também dou palpite (I)

Por Marcus Vinicius

No Facebook antes das eleições do primeiro turno nas eleições 2014. Agora no blog.

Da série - Eu também dou palpite...

Estamos todos(as) no mesmo barco eleitoral. Todos(as) não.
Tem o pessoal da Crítica Radical e os anarquistas que não participam do jogo.
São três mulheres e oito homens que disputam à presidência da República.
Da esquerda à direita. De partidos marxistas-leninistas aos de direita.

Todos, nas eleições, com suas táticas e estratégias eleitorais, portanto, buscando eleitores para suas propostas. São santinhos, jantares, programa de TV e as redes sociais....e o corpo a corpo.

Mas, nós eleitores(as) somos bichos esquisitos. Incomodamos alguns pois não damos importância às “verdades” e somos muitas vezes acusados de vender votos ou acreditar nas pesquisas e por isso votamos nestes bem pontuados.

Pior, escolhemos nossos(as) candidatos(as) e depois buscamos justificativas.

É o que vou fazer. (não sei pra quê... mas publicarei no “face” e assim posso ter ou não curtições),

Comecemos pelos deputados.

Nestes eu voto nem que ele e ela não queiram. Sem justificativas. Mas vou lembrar que eles têm origem em grupo que estava muito acima da média do ponto de vista intelectual e político. Meu Utópico concreto (by Ernst Bloch) e minha Marxista esotérica.

Renato Roseno – 50500
Luizziane Lins - 1313

Para o Senado – votarei em Branco, sem pestanejar.

Para Governador - Camilo 13.

Agora lascou, vou ter que justificar. Sem culpa ou remorso. Nunca votei em Cid Gomes e olha que houve um tempo que muita gente boa votou. Na primeira eleição do Cid, fiz campanha, fotos e votei pro Renato Roseno, na segunda, votei na Soraia. Portanto...
E, Cid não é o candidato. Logo o discurso do “ele é Gomes” e etc não me abala. É o melhor dos candidatos.

Para Presidenta – DILMA 13

Sem muita justificativa. É disparada a melhor candidata. Até porque é inconsequente o discurso vazio de que Dilma é igual a Marina e ao Aécio.

Alaide Costa e Hermínio Bello de Carvalho

Por Marcus Vinicius

Disco definitivo de Alaide Costa e Hermínio Bello de Carvalho - de 1982

Capa do LP - 1982




















Capa do relançamento em CD

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Lembrei - 4 Cabeça

Por Marcus Vinicius

4 Cabeça -Grupo formado por Luis Carlinhos, Gabriel Moura, Maurício Baia e Rogê, quatro cantores, compositores e violonistas que desenvolvem também carreiras individuais.

Lembrei (Maurício Baia e Gabriel Moura)



Lembrei (4 Cabeça)

Lembrei de me esquecer a tempo
Perdi meus maiores achados
Odiei por amor
Utilizei coisas inúteis
Paguei caro por prazeres baratos

Eu desafiei a lâmina afiada
Enterrei um sapo no terreiro
Quis não ter querer
Tentei não cair em tentação
Mas livrei-me dos livros
Pois eles não me livraram.

Brasis - 4 cabeça

Por Marcus Vinicius

4 Cabeça -Grupo formado por Luis Carlinhos, Gabriel Moura, Maurício Baia e Rogê, quatro cantores, compositores e violonistas que desenvolvem também carreiras individuais.



Brasis (4 cabeças)

Tem um Brasil
Que é próspero
Outro não muda
Um Brasil que investe
Outro que suga
Um de sunga
Outro de gravata
Tem um que faz amor
E tem um outro que mata

Brasil do ouro
Brasil da prata
Brasil do balacoxê
da mulata

Um Brasil que é lindo
Outro que fede
O Brasil que dá é
Iqualzinho ao que pede
Pede paz, saúde, trabalho, dinheiro
Pede pelas crianças do país inteiro

Tem um Brasil que soca
Outro que apanha
Um Brasil que saca
Outro que chuta
Perde, ganha, sobe, desce
Vai á luta bate bola
Porém não vai á escola

Brasil de bronze
Brasil de lata

É negro, é branco, é nissei
É verde,é índio peladão
É mameluco, é cafuzo,
É confusão

Óh pindorama eu quero
O teu porto seguro
Tuas palmeiras, tuas feiras, teu café,
Tuas riquezas, praias, cachoeiras
Quero ver o teu povo de cabeça em pé

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Vou danado pra Carente

Via Dora Moreira



PUNHAL DE PRATA é um projeto dos músicos Alessandra Leão (PE) e Rafa Barreto (SP) que revisita a obra de Alceu Valença, lançada na década de 70, em meio à psicodelia do cenário Udigrudi pernambucano. O repertório foi montado à partir de quatro dos cinco discos lançados naquela década: Quadrafônico (Alceu Valença & Geraldo Azevedo, 1972), Molhado de Suor (1974), Vivo! (1976) e Espelho Cristalino (1977).

FICHA TÉCNICA:
Vou Danado pra Catende - Alceu Valença e Ascenso Ferreira
Direção Musical - Alessandra Leão e Rafa Barreto
Arranjo e execussão:
Alessandra Leão (voz)
Rafa Barreto (guitarra)
Caçapa (guitarra)
Missionário José (baixo)
Guilherme Kastrup (bateria)
Imagens e Edição - Thiago Duarte
Gravação e Mixagem - Estúdio Sabiá por Guilherme Destro "Guime"
Masterização - Mosh Estúdio por Guilherme Destro "Guime"

REALIZAÇÃO:
Garganta Records
Mosh Filmes
Estúdio Sabiá

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Monarco,Mário Lago e Carlos Galhardo

Valsa de Mário Lago - Delvolve - com Carlos Galhardo



Aqui a música Poeta Apaixonado de Monarco e Mário Lago. Com Monarco.




terça-feira, 2 de setembro de 2014

Voto contra tudo que ta aí

por Jorge Furtado

Se alguém me dissesse, em 2004 – quando o primeiro governo Lula sofria a oposição feroz de toda a mídia brasileira e tinha pouco ou nada para mostrar de resultados – que em dez anos o segundo turno da eleição presidencial seria disputado entre duas ex-ministras do governo Lula, uma pelo Partido dos Trabalhadores e uma pelo Partido Socialista Brasileiro, eu diria ao meu suposto interlocutor que a sua fé na democracia era um comovente delírio. A provável ausência, pela primeira vez no segundo turno das eleições presidenciais, de candidatos da direita autêntica, do PSDB, do DEM e do PTB, é mais uma boa notícia que a democracia nos traz. Imagina-se que, vença quem vença, muitos dos derrotados voltarão correndo para os braços confortáveis do novo governo, esta é a má notícia.

Tenho familiares e bons amigos que vão votar na Marina e também no Aécio. Eu vou votar na Dilma. Acho que foi o Todorov quem disse (mais ou menos assim) que a democracia nos reúne para que a gente resolva qual é a melhor maneira de nos separar. Não sou nem nunca fui filiado a qualquer partido, já votei em vários, tenho amigos em alguns. Neste que é o maior período democrático da nossa história (25 anos, sete eleições consecutivas), o Brasil não parou de melhorar e não há nada que indique que vá parar de melhorar agora.

Votei no Lula, desde sempre até ajudar a elegê-lo em 2002, com o palpite de que um governo popular, o primeiro em 502 anos, talvez pudesse enfrentar com mais vigor o grande problema brasileiro: a desigualdade social. Achei que, talvez, substituindo a ideia de que o bolo deve primeiro crescer para depois ser divido pela ideia de incentivar o crescimento do país com melhor distribuição de farinha, ovos, manteiga, fogões, casas com luz elétrica, empregos e vagas nas escolas e nas universidades, finalmente poderíamos começar a nos livrar da nossa cruel e petrificada divisão entre a casa grande e a senzala. Meu palpite estava certo. A desigualdade brasileira continua grande e cruel mas está, finalmente, diminuindo.

Voto, ainda, primeiro contra a desigualdade social, ainda o maior problema do país, um dos mais injustos do planeta, em poucos lugares há uma diferença tão grande entre pobres e ricos. A elite brasileira (sim, ela existe, esta aí), fundada e perpetuada no escravismo, luta para manter seus privilégios a qualquer custo. Eles são donos dos bancos, das grandes construtoras, fábricas e empresas, das tevês, rádios, jornais e portais da internet e defendem ferozmente sua agradável posição. A única maneira de enfrentar seu enorme poder é no voto.

Voto contra o poder crescente do capital sobre as políticas públicas. Quem vive de rendas pensa sempre mais no centro da meta da inflação e menos nos níveis de emprego, mais na taxa dos juros e menos no poder aquisitivo dos salários. O poder do capital especulativo, rentista, é gigante, mora na casa dos bilhões de dólares. Voto contra, muito contra, a autonomia do Banco Central, que tira do governante, eleito pelo nosso voto, o poder de guiar o desenvolvimento segundo critérios sociais, protegendo o país do ataque de especuladores e garantindo renda e empregos, e entrega este poder ao tal mercado, hereditário e eleito por si mesmo, sempre predador e zeloso em garantir a sua parte antes de lamentar os danos sociais causados por seus lucros. (Ver Espanha, Grécia, EUA, Finlândia, etc.)

Voto contra submeter os critérios de uso dos nossos recursos naturais não renováveis, como o petróleo, ao interesse de grandes empresas estrangeiras. O petróleo brasileiro e seu destino é o grande assunto não mencionado nas campanhas eleitorais. Os ataques contra a Petrobras, que acontecem invariavelmente às vésperas de cada eleição, atendem interesses das grandes empresas petroleiras, especialmente as americanas, que querem a volta do velho e bom sistema de concessões na exploração dos campos de petróleo, sistema que, na opinião delas, deveria ser extensivo às reservas do pré-sal. Aqui o interesse chega na casa do trilhão. Garantir que o uso da riqueza proveniente da exploração de nossos recursos não-renováveis tenha critérios sociais, definidos por governantes eleitos, me parece uma ideia excelente da qual o país não deveria abrir mão.

Voto contra o poder crescente das religiões sobre a vida civil. Respeito inteiramente a fé e a religião de cada um, gosto de muitos aspectos de várias religiões, sei do importante trabalho social de várias igrejas, mas não aceito o uso de argumentos ou critérios religiosos na administração pública. Mesmo para os que professam alguma fé religiosa a divisão entre os poderes da terra e do céu deveria ser clara. Diz a Bíblia, em Eclesiástico, XV, 14: “Deus criou o homem e o entregou ao poder de sua própria decisão”. (Esta é a versão grega, a versão latina fala em “de sua própria inclinação” ou “ao seu próprio juízo”.) Erasmo faz uma boa síntese desta ideia: “Deus criou o livre-arbítrio”. Ele, se nos criou a sua imagem e semelhança e criou também as árvores, haveria de imaginar que, criadores como ele, criaríamos o serrote, e com ele cadeiras, mesas e casas, e ainda, Deus queira!, a ciência que nos permita usar com sabedoria os recursos naturais e viver bem, com saúde. O poder crescente das igrejas, com suas tevês e bancadas no congresso, deve ser contido por um estado laico.

Voto contra o preconceito contra os homossexuais. O estado não tem nada a ver com o desejo dos indivíduos. Ninguém (seriamente) está falando que o sacramento religioso do casamento, em qualquer igreja, deva ser definido por políticas públicas, mas os direitos e deveres sociais devem ser iguais para todos, ponto. Os preconceituosos e mistificadores, que vendem a cura gay ou bradam sua lucrativa intolerância contra os homossexuais, devem ser combatidos sem vacilação ou mensagens dúbias.

Voto contra a criminalização do aborto. A hipocrisia brasileira concede às filhas da elite o direito ao aborto assistido por bons médicos, em boas condições de higiene, e deixa para as filhas dos pobres os métodos cruéis e o risco de vida, milhares de meninas pobres morrem de abortos clandestinos todos os anos. A mulher deve ter direito ao seu corpo, independente de vontades do estado ou de dogmas religiosos.

Voto contra o obscurantismo que impede avanços científicos. Há quem se compadeça com os embriões que serão jogados no lixo das clínicas de fertilização e ignore o sofrimento de milhares de seres humanos, portadores de doenças graves como a distrofia muscular, a diabetes, a esclerose, o infarto, o Alzheimer, o mal de Parkinson e muitas outras, cuja esperança de cura ou melhor qualidade de vida está na pesquisa com as células tronco.

Voto contra palavras vazias. Nossa era da mídia transformou a oralidade num valor em si, esquecendo que há canalhas articulados e bem falantes e pessoas de bem e muito competentes que são de pouca conversa, ou até mesmo mudas. Tzvetan Todorov: “A democracia é constantemente ameaçada pela demagogia, o bem-falante pode obter a convicção (e o voto) da maioria, em detrimento de um conselheiro mais razoável, porém menos eloquente”. (1) Há quem diga de tudo e também o seu oposto, dependendo do público ouvinte a quem se pretende agradar, há quem decore frases feitas repetíveis em qualquer ocasião, há quem não fale coisa com coisa. Prefiro julgar os governantes e aspirantes a cargos públicos menos por suas palavras e mais por seus atos, seus compromissos e sua capacidade de trabalho em equipe, ninguém governa sozinho.

Voto contra os salvadores da pátria. Pelo menos em duas ocasiões o Brasil apostou em candidatos de si mesmos, filiados a partidos nanicos, sem base parlamentar, surfando numa repentina notoriedade inflada pela mídia e alimentada pelo discurso “contra a política”, prometendo varrer a corrupção e as “velhas raposas”. No primeiro caso, a aventura personalista de Jânio Quadros acabou num golpe militar e numa ditadura que durou 25 anos. No segundo, a aventura personalista de Fernando Collor, sem base parlamentar e passada a euforia inicial, terminou em impeachment, bem antes do fim de seu mandato.

Voto na Dilma e contra tudo isso que ainda está aí: a desigualdade social, o poder crescente do capital, a cobiça sobre nossos recursos naturais, o preconceito contra os homossexuais, a criminalização do aborto, o obscurantismo que impede avanços científicos, a criminalização da política, as palavras vazias, os salvadores da pátria. Com a direita autêntica fora do jogo podemos, sem grandes riscos de voltar ao passado, debater o melhor caminho para seguir avançando. Ponto para a democracia.

(1) Tzvetan Todorov, Os inimigos íntimos da democracia, tradução Joana Angelica DÁvila Melo, Companhia das Letras, 2012.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Dori Caymmi - 26 de agosto de 1943




Desenredo
Composição: Dori Caymmi / Paulo César Pinheiro

Por toda terra que passo me espanta tudo que vejo
A morte tece seu fio de vida feita ao avesso
O olhar que prende anda solto
O olhar que solta anda preso
Mas quando eu chego eu me enredo
Nas tranças do teu desejo
O mundo todo marcado à ferro, fogo e desprezo
A vida é o fio do tempo, a morte o fim do novelo
O olhar que assusta anda morto
O olhar que avisa anda aceso
Mas quando eu chego eu me perco
Nas tramas do teu segredo
Ê Minas, ê Minas, é hora de partir, eu vou
Vou-me embora pra bem longe
A cera da vela queimando, o homem fazendo seu preço
A morte que a vida anda armando, a vida que a morte anda tendo
O olhar mais fraco anda afoito
O olhar mais forte, indefeso
Mas quando eu chego eu me enrosco
Nas cordas do seu cabelo
Ê Minas, ê Minas, é hora de partir, eu vou
Vou-me embora pra bem longe...

Manacéa - 26 de agosto de 1921

Manhã Brasileira com Manacéa.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Dona Ivone Lara canta...

Este samba cabe perfeitamente nos quiproquós que permeiam nossa política. Tanto no federal como no estadual. E como o samba, agoniza mas não morre, ele também resolve ou canta estas pendências eleitorais.

O samba é Tendência, do Jorge Aragão e Dona Ivone Lara, aqui cantado por Dona Ivone Lara.
Dona Ivone é a nossa protetora, no mês de agosto, no Falso Amor Sincero.



TENDÊNCIA (Jorge Aragão e Dona Ivone Lara)

Não... pra que lamentar
O que aconteceu... era de esperar
Se eu lhe dei a mão... foi por me enganar
Foi sem entender, que amor não pode haver
Sem compreensão, a desunião... tende aparecer
E aí está... o que aconteceu
Você destruiu... o que era seu

Você entrou na minha vida
Usou e abusou, fez o que quis
E agora se desespera, dizendo que é infeliz
Não é surpresa pra mim, você começou pelo fim
Não me comove o pranto de quem é ruim, e assim
Quem sabe essa mágoa passando
Você venha se redimir
Dos erros que tanto insistiu por prazer
Pra vingar-se de mim

Diz que é carente de amor
Então você tem que mudar
Se precisar, pode me procurar... procurar
Se precisar, pode me procurar




Aracy de Almeida - 19 de agosto de 1914