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Agrônomo, com interesses em música e política

quarta-feira, 31 de maio de 2017

MORIBUNDAS VONTADES


Fernando Pellon.
Ele é doutor em Geologia.
É também excelente compositor. Dele já disse Aldir Blanc, "extraordinário".
Tem dois discos anteriores:
Cadáver Pega Fogo Durante o Velório (1983)
Aço frio de um punhal (2010)
Recentemente lançou seu terceiro disco - Moribundas vontades (2016).

Aqui duas faixas,  Moribundas Vontades e Mantra de Samba













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terça-feira, 30 de maio de 2017

A CADELA VIRA-LATA

Por Vólia Barreira

Era uma cadela vira-lata e magra de dar dó. Chegou lá em casa de repente, vindo sabe-se lá de onde, com o rabo entre as pernas, arrastando um barrigão enorme e com uma cara de fome de vários dias. Não parecia ser jovem, tinha um ar cansado de quem já havia parido várias vezes.

Nós, crianças, ficamos com pena daquele animal que parecia tão sofrido, com aquele jeito humilde de cão sem dono, carregando com visível esforço o enorme barrigão.
Estava longe de ser uma cadela bonita, seu pelo amarelado era meio ralo, tinha o focinho muito comprido e andava sempre com o rabo entre as pernas. Era como se ela estivesse na iminência de apanhar, o que, aliás, deve ter acontecido muito por aí, nas suas andanças pela vida. Deixamos que ela se alojasse num canto do quintal, com a cumplicidade daquela que cuidara de mim desde que nasci, a quem meu irmão apelidou de “Pedinha”; ela acobertava todas as nossas traquinagens, pois mamãe não podia nem sonhar com aquela “presepada”. 

Todo dia nós lhe levávamos um prato com restos de comida e ela foi ficando por ali enquanto aguardava mais uma ninhada. Sua “casa” era próxima ao pé de seriguela do nosso quintal, onde ficávamos encarapitados a “mangar” da pobre cadela.
Pedinha, que vivia há anos lá em casa, não gostava daquele “cão sarnento” como ela dizia, no entanto, era ela quem lhe preparava todos os dias o prato de comida e a tigela d'água.

Essa cachorra parece uma geringonça! dizia ela.
Para nós era mais um motivo de gozação; quando a pobre cadela, toda desengonçada, balançando os peitos caídos, vinha cheirar suas pernas, quem sabe atrás de comida ou, quem sabe, apenas para agradecer a atenção que nunca teve, ela lhe tascava um “sai pra lá geringonça”!
E assim, nós a batizamos oficialmente de Geringonça.

Pouco tempo depois a cadela já parecia outra. Mais gorda, mais disposta, até menos feia.

Num dia qualquer desse tempo, que já se tornara uma rotina e perdera a graça, tão acostumados estávamos com a “Geringonça”, eis que ela amanhece parida.
Foi um alvoroço! Uma ninhada de cachorrinhos, todos amarelados como a mãe, uns mais clarinhos, outros mais escuros. Cinco ao todo e todos querendo mamar ao mesmo tempo nos peitos murchos da cadela.

Nosso pai foi categórico: - “nada de ficar com essa cachorrada em casa. Tratem de dar os filhotes”.

Então aconteceu uma coisa insólita, que nunca havíamos visto antes e nosso pai nos explicou mais tarde ter sido essa, a única forma que o animal encontrara de defender uma parte da ninhada, pois sabia que não teria leite suficiente para alimentar a todos.
Todas as manhãs nós dávamos pela falta de um ou dois filhotes, que encontrávamos no terreno baldio ao lado da nossa casa, separado apenas por uma cerca de arame farpado.
Nós os levávamos de volta para a mãe e tornávamos a encontrá-los lá no dia seguinte.
A princípio pensávamos que os filhotes fugiam e não sabiam mais voltar, mas isso era inexplicável, pois os bichinhos mal abriam os olhos e nem se firmavam direito nas patas.

Como sempre, foi a minha preciosa Pedinha quem descobriu o “mistério”. A própria Geringonça os levava pendurados pelo cangote e os abandonava. Provavelmente ela escolhera aqueles que tinham mais condição de sobreviver. Lembro-me que uns dois chegaram a morrer e os outros nós distribuímos com a meninada da vizinhança. Não ficamos com nenhum.

Naquela época já tínhamos em casa outro cachorro, criado desde novinho, um cachorro bonito e macho (que a nossa mãe não gostava de cadela porque vivia no cio), não de raça pura, mas, “meio raceado” como dizia meu irmão, o dono oficial do cão.

Um belo dia, já sem nenhum filhote e refeita do parto e da amamentação, a nossa Geringonça sumiu, exatamente como chegou às nossas vidas, mansamente, sem alarde (nunca a ouvimos latir, ao contrário do nosso cão, que latia à noite ao menor ruído nos arredores da casa).
Foi embora sem se despedir e nunca mais a vimos pelas vizinhanças.
Certamente ela aportou na nossa casa apenas para ter suas crias e se restabelecer, sem intenção de ficar.
Como uma cadela de rua, que era provavelmente ela não se acostumaria a ter um dono (ou vários).
Não achamos que ela tenha sido mal agradecida, de alguma forma compreendemos que ela nos agradecera com seu olhar meloso e manso de quem não veio ao mundo para perturbar ninguém, apenas para ser livre.



segunda-feira, 29 de maio de 2017

A CASA DA ESCADARIA


POR VÓLIA BARREIRA


A casa da escadaria

A bela escadaria da casa da minha infância
tinha degraus que eu subia em alegre algaravia.

Construída no centro de um terreno elevado
seus sete degraus davam acesso à varanda
encimada pelo amarelo do pé de acácia.

Com os olhos da recordação
vejo-me a subir correndo as escadas, contando os degraus,
como fazia em criança
enquanto nos ouvidos, ainda ressoam os passos do meu pai
escada abaixo,
a caminho de uma imensurável prisão
na madrugada que se eternizou na memória.

Num canto da escada, às escondidas, sinto o coração aos pulos
com a descoberta inusitada do desejo
e das profundas infelicidades dos amores imaturos.

Com os pés pesados feito chumbo
desci os degraus na vez primeira
quando  tive a consciência da nossa finitude
e o fiz, na derradeira,
carregada de  tristeza,
no dia em que a casa se transformou em sentimento .

Em suas paredes ficaram grudadas as minhas memórias
que reconstituem cada vão,
cada mosaico, cada planta do jardim...

Apurando os ouvidos,
ouço os sons de um tempo,
que ainda repercute. 


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Poema premiado no 

1º Concurso Literário da Livraria Escritores do Ceará - Prêmio Milton Dias - Crônica e Poesia - 2017

terça-feira, 23 de maio de 2017

ALMÉRIO - TRÊMULA CARNE

ZYGMUNT BAUMAN E A PREVIDÊNCIA SOCIAL

POR JORGE FÉLIX
A  morte de Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, surpreendeu por sua imensa força viral no ambiente das redes sociais. No entanto, como destacado por rara parte da imprensa, o pensamento de Bauman pode ser vítima de sua própria teoria marcada pelo conceito do “líquido” nas relações sociais da sociedade contemporânea. Para ele, o capitalismo dos nossos dias, mais do que “flexível”, é forjador de uma incapacidade brutal de cristalizar laços sociais no que quer que seja. No que diz respeito ao conhecimento, na “modernidade líquida” é difícil as pessoas adquirirem um entendimento profundo sobre um tema. Toda a busca de conhecimento passa a ser funcional e torna-se superficial. Foi assim com sua obra também. O conceito do “líquido” ganhou as rodas de conversas em universidades, bares, festas e poucos passaram dos títulos dos inúmeros livros do autor.
 Neste momento social e político do Brasil e do mundo, porém, ler Bauman com mais atenção pode nos ajudar a compreender melhor os acontecimentos e, por suas fendas, ir em direção a soluções para os desafios do século XXI. Não que ele tivesse a pretensão de oferecer respostas definitivas aos problemas sociais que abordou, mas Bauman era um excelente sistematizador da dinâmica social e conseguiu, assim, prover a sociologia de ferramentas de análise e categorias promissoras para compreendermos as causas. E é esse ponto que nos interessa mais aqui. Para Bauman, o início de qualquer possibilidade social depende do resgate de algum significado para a Seguridade Social. Em outras palavras, é o momento de pensarmos na Previdência Social, na Saúde e na Assistência Social fora das planilhas, sem números e colocarmos ênfase em seu sentido de instrumento para a coesão social.
A crise das prisões, as epidemias, a corrupção na política, a desvirtude das instituições entre outras anomalias contemporâneas, na visão de Bauman, têm sua semente na destruição dos sistemas de seguridade social. O Estado do Bem-Estar Social, no pós 2.ª Guerra Mundial, foi pensado, ele lembra em diversos livros, como um direito universal e condição imprescindível para a manutenção dos laços sociais. Depois de anos de liberalismo econômico e de políticas focadas em segmentos ou de caráter individual, a Europa se viu em frangalhos e, nesse ambiente pós-guerra, formou-se o consenso de que só uma seguridade social forte garantiria um “seguro coletivo” para a paz. O sistema, assim, reduz o estigma daqueles que dependem do Estado por pobreza, doença ou velhice. É por meio da Seguridade Social que o Estado aprumaria minimamente as oportunidades e reduziria a tendência à ampliação da desigualdade social. Tudo isso é o alicerce do pensamento de Bauman.
A partir do fim do século XX, precisamente no término dos anos 1970, passou-se a acreditar, destaca ele, que há alguma chance em encontrarmos “soluções individuais para problemas socialmente construídos”. Pura ilusão. Um dos símbolos dessa ilusão é a previdência privada em contas individuais. A biopolítica da financeirização da vida alimenta o sonho de que garantindo uma renda – em detrimento de milhões de outros, que vivem no mesmo território ou em outro, jamais a garantirão – asseguraria a paz e o provimento para a velhice. Bauman se esforçava assim para resgatar o sentido, o significado, o propósito de um sistema de seguridade social e convidava a pensar além das lentes fiscalistas. A destruição desses sistemas, vemos hoje, resultou também no desmoronamento das possibilidades de vivermos juntos. O Chile é o melhor exemplo, pois privatizou seu sistema, e hoje é o segundo país mais desigual da OCDE. A Grã-Bretanha caminhou para a desagregação com o mundo e internamente. A França e a Espanha estão sob a mesma ameaça.
Quanto aos Estados Unidos, o melhor alerta a confirmar as preocupações de Bauman é o estudo do prêmio Nobel de Economia Angus Deaton e da professora Anne Case sobre o aumento dos suicídios no país no segmento de homens brancos, não-hispânicos entre 45 e 54 anos entre 1999 e 2013. A pesquisa foi amplamente divulgada no mundo (e até no Brasil), com traduções de entrevistas de Deaton. Todavia os jornalistas omitiram de seus textos a principal conclusão do estudo (por incompetência ou não). Deaton e Case atribuem o aumento do suicídio na faixa estudada ao desmonte da seguridade social nos Estados Unidos. Eles dizem que o fato de o país ter “se direcionado para o sistema de contribuição definida em associação com o risco do mercado de ações, enquanto, na Europa, o sistema de benefício definido ainda é a norma” alimentou a insegurança financeira dos trabalhadores de meia idade em relação ao futuro.
“Se eles percebem um risco maior no mercado de ações ou se eles contribuíram inadequadamente para o plano de contribuição definida”, aumenta o sentimento de insegurança e fracasso, destacam os economistas. Essa situação de permanente insegurança e de uma suspeita de que será impossível replicar o mesmo padrão de vida da geração de seus pais, que desfrutaram do sistema de seguridade social por repartição, deságua no desespero. É o preço pela quebra do pacto intergeracional. Os Estados Unidos ocupam o 12º lugar entre os países da OCDE com maior número de suicídios. Está acima da média dos 45 integrantes do grupo. Não é considerada uma situação confortável para o país mais rico do planeta. Outras sociedades que sempre servem de exemplo no debate público brasileiro quando o assunto é envelhecimento, educação, trabalho ou aposentadoria, como Coréia do Sul e Japão ocupam, respectivamente, o primeiro e o terceiro lugar em número de suicídios no grupo da OCDE.
É preciso lembrar ao leitor que longe de abordar o suicídio aqui para espetacularizar a questão ou provocar alarme, estou preso a critérios sociológicos. O suicídio está na origem das Ciências Sociais, com o estudo clássico de Émile Durkheim, e é considerado tecnicamente um importante indicador da coesão social, das condições de saúde de uma sociedade, por isso a aferição desse dado pelas organizações multilaterais. No ano passado, a Fiocruz alertou para o número de suicídios no Brasil e chegou a iluminar seu prédio de amarelo em uma campanha por apoio às pessoas em risco. Pouco – ou nenhum – destaque foi dado pela imprensa a essa iniciativa. Apesar de 32 registros de morte por suicídio por dia no país, o tema ainda é tabu. E poucas pesquisas exploram sua relação com a previdência ou com a perspectiva de futuro no Brasil com essa anomalia social. A Brasileiros abordou a questão em matéria de outubro de 2015, “Quando a vida está por um fio, falar é a melhor solução”.
A Constituição de 1988, não à toa, incluiu a Seguridade Social no capítulo da Ordem Social. Isto é, da paz.  Ou do “seguro coletivo” da sociedade, nas palavras de Bauman. No debate atual sobre a reforma da previdência, a tendência é o confinamento da discussão no âmbito fiscal, sem pesar as consequências em relação à coesão social. É por isso que essa interpretação meramente fiscalista, no meu entendimento, dificilmente resolverá o problema de sustentabilidade da Previdência Social no futuro, como prometem seus defensores. A tendência será uma deterioração ainda maior pelo fato de as novas regras criarem uma legião de não aposentados, ampliarem a desigualdade de gênero e desmoralizarem o sistema público ampliando o êxodo para a ilusão da solução  individual, isto é, da previdência privada (VGBLs e PGBLs). O mesmo filme da desmoralização do sistema público, que contagia os jovens, principalmente, já passou no Chile na década de 1980.  Deu no que deu
O sonho de que todos podem ser empreendedores sempre alimentou o capitalismo. No entanto, a despeito de o sistema oferecer, de fato, chances, não faz do pequeno empreendedor livre das amarras ao grande capital. Ele continua pendurado por um frágil fio na vontade das grandes corporações que determinarão sua produção, seu fluxo de caixa, seu tempo e, principalmente, seu destino. Dito de outro modo, as chances de aferir poupança para a velhice continuam coletivas – do ponto de vista da produção – mas o esforço é individualizado, isentando justamente aquele que afere a maior parte do excedente produzido ou do lucro. Aqui vale o lugar comum: o indivíduo é entregue à própria sorte. Num capitalismo instável por essência, o desemprego (ou a falta de “cliente”) o assombra durante toda a sua vida laboral. O mais grave é que o vinculo empregatício formal, agora, é rompido muito cedo. Em média, aos 45 anos, o trabalhador é considerado pelas empresas como caro ou velho. O mercado de trabalho é cada vez mais exigente em relação às habilidades mutantes demandadas pela economia informacional. Forma-se o paradoxo: como se aposentar mais tarde se a demissão chega mais cedo?
Todos esses temas fazem parte do conceito “líquido” de Bauman. Ele foi um grande crítico à propagação ou idealização dessa sociedade do “eu me garanto”. Sua morte viral, porém, é oposta ao entendimento e aceitação de suas ideias por grande parte dos internautas do planeta. Eles são Bauman no virtual e como eleitores são seu inverso. São adeptos e fomentadores do mal-estar da globalização. Uma das causas, principalmente em relação ao desprezo das novas gerações por aderir ao pacto intergeracional dos sistemas de previdência por repartição, é a ausência da sociologia durante tanto tempo do currículo escolar. Isso limitou a compreensão da sociedade pelas pessoas. Sem a sociologia – e a filosofia – é impossível ensinar porque as coisas são como são. O termo “laço social” inexiste para essa geração e, principalmente, para a imprensa – que deveria ser a famosa mediadora, mas atua como combustível da visão meramente fiscalista da seguridade social, interessada sobretudo no bolo publicitário do setor privado.
O resultado, também amplamente apontado e analisado por Bauman, é a militarização como resposta às questões sociais, a criminalização daqueles que reivindicam mudança ou ensaiam resistência e, quanto aos deixados para trás, a prisão. A redução da seguridade social caminha parelha no mundo à ampliação da população carcerária. O crime organizado ou as organizações terroristas substituem o seguro coletivo e o pertencimento espoliado. Dispensável aqui se alongar nas consequências em meio a atual crise prisional ou onda terrorista. Ou ainda na imigração vulcânica dos que vão em busca de uma seguridade social onde existir ela possa, uma vez que, no país deles, ela nunca encontrou solo fértil. Uma crise planetária. Uma calamidade que custará caro aos Estados. Tudo o que pouparam na seguridade serão obrigados a gastar em presídios, armas ou equipamentos de segurança. Desviarão da saúde e da educação, cujos orçamentos foram encolhidos para garantir a prosperidade. Alguns se salvaram dessa lógica. Conseguiram acumular mais de 50% da riqueza do que sobrou de Nação. Mas o problema é que eles, como sabemos, não chegam a 1%. Foi isso que Bauman viveu para nos dizer e precisa ser viralizado.
* Jorge Félix é professor convidado da Universidade de São Paulo (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), mestre em Economia Política (PUC-SP) e jornalista.

Jazzmeia Horn - TIGHT


Jazzmeia Horn


- Conheci ontem, Jazzmeia Horn.

Abaixo matéria de Luis Orlando Carneiro.


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Jazzmeia Horn
A nova 
jazz diva na praça chama-se Jazzmeia Horn, e tem apenas 25 anos. O nome não foi adotado para fins comerciais, mas lhe foi dado quando nasceu, em Dallas, Texas, pela avó paterna, casada com um pastor, e que tocava música gospel ao piano. Em 2009, ainda teenager, ela foi para Nova York a fim de cursar a New School for Jazz and Contemporary Music. Em 2013, ganhou a Sarah Vaughan International Jazz Vocal Competition. Em 2015, venceu a Thelonious Monk Institute  de um júri formado por Dee Dee Bridgewater, Freddy Cole, Al Jarreau e Luciana Souza.


Pois o álbum de estreia dessa incrível vocalista - descendente estilística de Betty Carter (1930-1998) e Sarah Vaughan (1924-1990), na arte do scat singing – vem de ser lançado pelo selo Prestige/Concord Jazz, sob o título de A Social Call. São ao todo 10 faixas, nas quais Jazzmeia Horn lidera um conjunto instrumental de elite formado por Victor Gould (piano), Stacy Dillard (sax), Ben Williams (baixo), Josh Evans (trompete) e Jeromy Jennings (bateria), com participação especial do trombonista Frank Lacy.
A influência de Betty Carter na arte de Jazzmeia é patente na “instrumentalização” vocal boppish dos solos improvisados e nas trocas de compassos com os instrumentistas propriamente ditos. Carter foi uma contralto originalíssima, dona de um vozeirão às vezes roufenho, enquanto a nova estrela que tem jazz até no nome pode ser classificada como mezzo soprano, embora seu range vocal atinja notas altíssimas.



'A Social Call' é o álbum de estreia da premiada vocalista

A primeira faixa do disco inaugural de Jazzmeia Horn é um tema de Betty Carter, Tight (3m), com solo vigoroso de Stacey Dillard, seguido de uma troca de compassos imperdível entre o saxofonista tenor e a vocalista em scat. O título do CD vem de Social call, inesquecível composição do saxofonista alto Gigi Gryce (1925-1983), que recebe um tratamento curto (2m25), a vocalista abrindo sua versão com a letra escrita para o tema por Jon Hendricks, e muito bem servida pela seção rítmica.
O poema-hino Lift every voice and sing e Moanin', famoso tema bluesy do pianista Bobby Timmons, são casados numa faixa de seis minutos, e atestam as fontes primordiais da nova estrela a brilhar no céu do jazz.
reviwer Ron Weinstock (In a Blue Mood) destaca como highlight do álbum o medley de Afro blues/Eye see you/Wade in the water (13m), nos seguintes termos: “Começa com um tour de force imaginativo recriando o clássico de Mongo Santamaria, inicialmente tocado em dueto com Jennings (bateria), e tem um pouco de vocalização operática (de Jazzmeia) nos mais altos cumes do seu amplo registro. Segue-se um comentário social falado, como um rap, logo transformado num spiritual.
Outros temas escolhidos por Jazzmeia Horn para o seu álbum de estreia são East of the sun (6m05), que Sarah Vaughan gravou pela primeira vez em 1950, com Miles Davis; a balada The peacocks (8m), do saudoso pianista Jimmy Rowles (1918-1996); People make the world go round (6m55) e I'm going down (5m15), versões jazzísticas de dois hits do gênero rhythm & blues.
http://www.jb.com.br/jazz/noticias/2017/05/13/jazzmeia-horn-a-nova-estrela-do-jazz/